Dona Canô e Oscar Niemeyer : uma lição para os alquimistas

Dona Canô - mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia - e Oscar Niemeyer chegam aos 105 anos de idade. Vivenciam idades bíblicas. A primeira brindou-nos com um legado humano no campo da música: os dois filhos cantores.

Fico imaginando a responsabilidade dela: cantar cantigas de ninar para dois filhos que seriam grandes cantores da Música Popular Brasileira. Pelo visto, eles ouviram, gostaram, imitaram a mãe, universalizaram as entoações  e aplicaram o canto em suas vivências.
Lá no interior da Bahia, dona Canô não exerceu apenas a maternidade. Ao contrário, foi uma artista, uma intelectual. Lia Víctor Hugo em francês e ainda hoje faz questão de esclarecer: “A pronúncia é ‘vitô igô’ ”.

O segundo plantou em diversas partes do mundo – no contexto do seu inconfundível estilo – um maravilhoso legado arquitetônico.

Aderiu ao Comunismo, à esquerda - muitos gostariam que ele fosse apenas canhoto, diria Oswald de Andrade - e, portanto, não escapou ao Ateísmo. Os cálculos, as fórmulas para materialização de suas obras-primas arquitetônicas geram beleza. São verdadeiras preces. Beleza é Deus. Portanto, através da beleza e da opulência de suas criações, Niemeyer busca o Criador . Por meio dos seus cálculos caminha em direção a Ele. Talvez não perceba, mas essa é a sua verdadeira realidade. As leis da Física preconizam que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta. Niemeyer ama as curvas, despreza as retas. Então, o caminho fica mais longo, mas ele chegará lá. As suas orações são os cálculos matemáticos.

(Augusto Aguiar -19/09/2012 – 13h35m)