Em
seguida, antes do nascer do sol, íamos roubar pães nas varandas e comê-los no
banco da praça: rindo, cantando, brincando.
Nessas
ocasiões, meus amigos e eu conversávamos com os bustos, estátuas e hermas das
praças. Nesses diálogos, demonstrávamos uma coragem que as personagens nunca se
depararam.
Diante
da herma (tipo de busto) do Barão do Rio Branco, por exemplo.
-Este
é o Juca. – gritava o Joaquim.
-Todos
riam, rolavam na grama e acrescentavam:
-Que
nada, esse é o José Maria Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco.
-Ele
mesmo – esclarece Joaquim – mas em família e no círculo de amizades era chamado de Juca. Ou então, Paranhos Júnior.
Joaquim
fazia micagens para a turma. Mais risadas.
-É
o símbolo da diplomacia brasileira. Seu pai foi o Visconde do Rio Branco. – acrescentou.
-Contrariando
a vontade do pai e do Imperador, não foi ele que se casou com uma atriz belga ?
– perguntou alguém do grupo.
-Sim, foi sim. – respondeu.
-Em
seguida, segurou as bochechas do Barão, apertou-as como se fossem flácidas, e
disse:
-Fez
bem, Barão.
Todos
riram novamente, bateram palmas e carregaram Joaquim nos ombros.
Lá
na frente, a vida nos esperava com mais seriedade.
Nunca
mais roubei um pãozinho, mesmo indo a muitos bailes. E nunca achei ruim,
quando, anos mais tarde, os rapazes, depois dos bailes, roubavam os pães da
minha varanda.
*Esta matéria, por uma deferência especial, está sendo publicada no site:
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