O estilo arquitetônico de um
edifício Panóptico - utilizado em prisões, sanatórios, internatos etc. - é um
círculo dividido em pequenas celas. Estas possuem janelas para o exterior, a
rua, e para o interior da edificação, o pátio. Conclui-se, portanto, que não há
sombras no interior delas.
No centro do pátio há uma
torre. Nela, fica um vigilante. Venezianas e labirintos interligam as salas da
torre, eliminam a luz, ruídos, impedindo a localização do vigilante. Ele tudo
vê dentro das celas, mas não é visto. Apenas pressentido.
Em 1789, quando esse
edifício foi projetado pelo filósofo inglês Jeremy Bentham, o circuito interno
de TV não existia. Óbvio, não é?
No momento atual, pensar a
humanidade dentro de um edifício Panóptico e submissa aos rigorosos poderes
dominantes, muitas vezes não identificados, é profundamente desconcertante. Infelizmente, essa
é a realidade.
O Homem é dominado pela violência econômica, física, trabalhista e
psicológica – entre muitas - desses poderes, resultado da diferente compreensão
que cada ser humano tem do outro, apesar de sermos seres de linguagem. Com base
nessas diferenças, surge, inclusive, a legitimação de injustificadas razões
históricas.
Algumas
vezes, os cenários do acerto de contas desse desrespeito às diferenças – as
guerras – são suavizados através de uma estratégia que adia por pouco tempo o
sofrimento e/ou a morte das pessoas: a Trégua Humanitária (?).
Dentro desse contexto, existe uma imagem digital que mostra
um menino negro sob o sol, talvez africano, com uma pequena ovelha nos braços.
Ele é um pequeno pastor e, com certeza, sem as sandálias dos pastores bíblicos.
Portanto, descalço.
Nada se sobrepõe à preocupação de sua expressão fisionômica
em proteger a ovelhinha. Esta exibe um olhar doce, peculiar da paz dos protegidos.
Nem mesmo o avião de caça - predador de vidas humanas - sobrevoando sua região,
municiado com mísseis e, quem sabe, batizado de “Herodes”. É comum os pilotos
batizarem suas máquinas mortíferas com nomes fortes.
Que
bom se o avião de caça carregasse a Paz, a exemplo do menino pastor que, impotente
diante do poder que esmaga seu país, agasalha nos braços cheios de humanidade a
ovelha que se entrega à pureza do abraço protetor.
Seria Natal? Não sei. Mas o menino nos lembra da sacralidade
do Natal. A maneira como vive e procede é a mesma de alguns personagens natalinos, os pastores.
No
próximo Natal, caso esteja vivo, ele estará novamente no cenário semelhante ao presépio. Mas outro menino,
o sírio Aylan Shenu que, aos três anos – fugindo da guerra - morreu afogado no
mar Egeu (Síria), nunca mais estará em seu habitat natalino. Apesar disso, a grandeza dele e da dimensão
simbólica que passa a representar não couberam naquele mar que, envergonhado, o
devolveu a terra firme.
Poema registrado na Agência Brasileira do ISBN (International Standard Book Number)
Ministério da Cultura - Fundação Biblioteca Nacional, sob número 978-85-63853-54-7.
Crédito da Imagem: Google
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