terça-feira, 4 de agosto de 2015

Boatos


O boato é uma notícia verdadeira ou falsa. Na maioria das ocasiões, maldosa. Entre as múltiplas características do boateiro (a) ,destaco três: a primeira, um meio de vida para sobreviver , como uma atração, nos grupos sociais com os quais interage. A segunda, prolongar a vadiagem. Alguns boateiros (as) são vagolinos (as), não fazem nada na vida. A última, uma questão patológica.
Qualquer que seja o perfil de quem os divulga, eles são cochichados, de ouvido em ouvido, como se fossem uma biografia. Muitas vezes, o alvo do boato  é uma pessoa pública, midiática, que tem como desmenti-lo através da mídia eletrônica e/ou impressa. Caso seja verdadeiro, ela pode adequá-lo a uma interpretação correta, remover as tintas da maldade.
Outras vezes, a vítima  também é alguém importante, mas que se abstém do barulho social. Assim sendo,  supõe que ficará à margem desse estilo de notícia. Puro engano, esse modo de vida gera boatos e assanha ainda mais aqueles que praticam esse gênero de comportamento social. Vejamos alguns boatos com características diferentes:
Jerome David Salinger, assinava-se literariamente J.D. Salinger (1919-2010), foi um escritor americano que se tornou  o modelo perfeito de alguém dotado de visibilidade, mas que se isolou do mundo. Ele é  o autor de "O Apanhador no Campo de Centeio”,  publicado em 1951, livro que vendeu mais de 65 milhões de exemplares. Nos dias de hoje,  continua vendendo muito. Por sinal, naquela década, essa obra literária mudou o comportamento da juventude americana.
Os boatos a respeito de J.D. Salinger – falsos ou verdadeiros – ainda vigoram até os dias atuais, apesar das memórias da filha, de uma ex-namorada dele e da biografia póstuma com o título “Salinger”, de David Shields e Shane Salermo.
Um boato diz que ele teria contraído a Síndrome de Bartleby ou Síndrome do Papel Amassado, a famosa renúncia à Literatura. Exemplos famosos são: Rimbaud, Herman Melville, Gogol, Raduan Nasser etc. 
Outro boato conta que em sua vida reclusa, Salinger escrevia o dia todo. Comenta-se a existência de um provável Testamento Literário. Este determina que esses escritos somente sejam publicados cinquenta anos após sua morte. 
Mais outro: sequelas psicológicas, provenientes de sua participação na Segunda Guerra Mundial,  levaram o escritor a preferir uma vida monástica.
Conclui-se, portanto, que ele - por uma questão de opção - adotou a postura de ignorar a  boataria. Dessa forma, deixou prevalecer uma conceituação que li há muito tempo: "Quando não funcionam os fatos, funcionam os boatos".
Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo literário de Sérgio Porto, um dos grandes cronistas de nossa imprensa) escreveu uma crônica a respeito de um  boateiro.
Explica que o sujeito era um boateiro de plantão. Encheu tanto o saco que um coronel do exército mandou prendê-lo, colocou-o no paredão e ordenou que o pelotão atirasse. O cara desmaiou e quando acordou na enfermaria – os tiros foram de festim - o coronel avisou:
-Ou para senão da próxima vez a coisa vai ser de verdade.
 Em seguida, foi solto. Logo na primeira esquina encontrou uns conhecidos.
 -Quais são as novidades? – perguntaram os conhecidos.
O boateiro olhou pros lados, tomou um ar de cumplicidade e disse baixinho:
-O nosso exército está completamente sem munição.
Você, caro leitor, conhece algum boateiro (a)?


Texto registrado na Agência Brasileira do ISBN (International Standard Book Number)
Ministério da Cultura - Fundação Biblioteca Nacional, sob número 978-85-63853-54-7. 
Crédito da Imagem: Google



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