sexta-feira, 22 de abril de 2016

Praça Jarbas Aymoré do Prado : um equívoco involuntário

Antes de qualquer coisa, importa dizer que o professor Jarbas Aymoré do Prado foi uma pessoa diferenciada. Por sinal, dotado de uma imensa densidade humanística. Em 1965, exercia as funções de Diretor do Instituto Estadual de Educação Dr. Paraíso Cavalcanti, o Ginásio.

Naquela época, como em todas as outras, os livros didáticos eram uma sacanagem comercial. A fim de ajudar as vítimas desse sistema, seu Aymoré esticava o máximo que podia as parcelas dos livros didáticos que minha mãe e os pais de outros alunos  adquiriam através da Caixa Escolar. E vou ser sincero, ele pagava do próprio bolso muitos desses livros para os alunos carentes.

Nosso município cometeu um equívoco na tentativa de homenagear o professor  Jarbas Aymoré. O Decreto nº 536, de 12 de outubro de 1970, publicado na edição nº 2.376, de 18/10/1970, da Gazeta de Bebedouro, tem a seguinte redação: “ARTIGO 1º - Fica denominado ‘Praça PROF. JARBAS AYMORÉ PRADO’,  o logradouro público onde se acha localizado o edifício da Agência dos Correios e Telégrafos desta cidade (...)”.

O local destinado à aplicação do Decreto 536  é propriedade da União, Nele, há o prédio onde funciona a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, criada em 20 de março de 1969 (a criação dos Correios no Brasil é outra coisa).  

Por outro lado, o que o relator do texto quis dizer com “... o logradouro público onde se acha localizado o edifício da Agência dos Correios...”?Considerando a suposição de que a área destinada à praça fosse da municipalidade, ele grafou logradouro público no sentido de espaço público, livre, franqueado ao uso comum dos cidadãos.

Mas aquela área, de acordo com a escritura do imóvel, não é da prefeitura, mas dos Correios (patrimônio da União). Apenas possui – com um nível aceitável de qualidade estética - o aspecto de um espaço público municipal, disponibilizado  por aquela empresa aos usuários que acessam as suas dependências. Essa é a finalidade daquele local. Na prática, o seu uso é de caráter geral, apenas isso.

 A "criação dessa praça (?)" se trata, portanto, de um equívoco. Bem intencionado, claro. Aliás, merecidamente bem intencionado. Caso o autor da homenagem fosse a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, aí, sim, teríamos uma situação correta. Há, entretanto, esse caminho. Revogar o Decreto e ela  fazer a homenagem. Não deve haver solução mais prática do que essa. "Espaço Jarbas Aymoré do Prado" seria uma denominação coerente. 

Alguns anos depois, a questão da criação da praça gerou um desconforto a outro professor, o senhor Manoel Izidoro Filho, vizinho dos Correios. Na sua forma de entender, o local era um logradouro público.

Em 2002, ocorreu a reforma mais recente do prédio da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Nessa ocasião, foram instaladas as grades protetoras ao redor dele. Pelo lado da Rua Antônio Alves Toledo, a grade acompanha o alinhamento dos muros das demais edificações;  a instalada pelo lado da Rua XV de Novembro, onde fica o imóvel do professor Izidoro, não acompanha.

Neste último caso, por quê? Porque abriu-se um precedente ao professor. A grade, em relação ao alinhamento da residência dele, foi recuada. Esse procedimento foi revestido do caráter da excepcionalidade. E vou explicar o motivo: 

O portão do seu imóvel seria aterrado pela rampa para pessoas com deficiências. 
O recuo da grade permitiu ao professor e aos seus familiares a preservação dos seus laços afetivos com o lugar a ser aterrado. Ao mesmo tempo, preservou-se a continuidade da utilização do portão do alpendre que dá para a “praça” . Por sinal, um alpendre aconchegante e histórico. Mas para preservar isso tudo, alguns obstáculos tiveram de ser transpostos.

Tentei dissuadir o engenheiro dos Correios, Dr. Fábio Scatenna (já falecido), da intenção de isolar o portão. De início, não obtive sucesso. Na condição de meu superior imediato, determinou que o acompanhasse a fim de comunicar o fato ao professor.
- O que você pode fazer por mim, Augusto? – perguntou-me    seu Izidoro com os olhos cheios de lágrimas.

Fiz um sinal para ele, apenas isso. Em seguida, saí a campo para resolver o problema.
Alguns dias depois, o engenheiro volta e me diz:
- Vamos recuar a grade em relação ao alinhamento que seria    correto. Com isso, não 
haverá nenhum embaraço ao              vizinho.
- Já estou sabendo. O vizinho também. – respondi.

Portanto, a rampa ali hoje existente foi construída num estilo arquitetônico diferente daquele inicialmente projetado. Eu tive a oportunidade de ver o reflexo dessa atitude de bom senso estampada na expressão de satisfação da fisionomia do professor Izidoro.

Não em uma ordem necessariamente de prioridade, uma vez que todos eram de caráter urgente, mas os motivos da opção pela grade ao redor do prédio  foram estes:

O primeiro, conter o vandalismo no local. Por sinal, abusivo, a exemplo de todo vandalismo. Pelo mesmo motivo, a Fonte Luminosa foi gradeada. O segundo, acabar com as cenas de sexo que aconteciam, durante a madrugada, entre as colunas sobre o patamar da escada que contorna o prédio pela parte da frente e lateral externa.  

Graças ao bom senso da direção daquela empresa pública, que reviu sua intenção inicial, tudo continua como era: a pracinha que leva o nome do professor Aymoré  e o portãozinho do seu Izidoro. 

Falta apenas a revogação do decreto da criação da Praça e, a seguir, os Correios criariam o "Espaço Jarbas Aymoré do Prado". Uma bela maneira de se pôr, corretamente, os pingos nos is.

Autor: Augusto Aguiar



Texto registrado na Agência Brasileira do ISBN (International Standard Book Number) - Ministério da Cultura - Fundação Biblioteca Nacional, sob número 978-85-63853-54-7.
Crédito da imagem: Augusto Aguiar





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