Num primeiro momento, o olhar capta sobriedade nas
feições de Ariano Suassuna. Há, contudo, alguns detalhes que desfazem essa
impressão; por exemplo, a sua voz com timbre de choro contido: feia, fraca, baixa
e rouca, como ele mesmo disse em uma aula-espetáculo que proferiu; em seguida,
o inerente gestual magnetizador com um quê de sacerdote.
Desfeita a impressão inicial, podemos elencar outras
características que a sua figura também transmite: a primeira, um pai
educador e carinhoso; a segunda, um avô que sabe contar histórias; a terceira,
um tio paternal; a quarta, o velho professor que encanta os alunos.
Em 1970,
ele funda o Movimento Armorial, um dos
seus filhos culturais, processo
artístico que evidencia a cultura popular do Nordeste. O Movimento
Armorial tem como fim criar uma arte brasileira erudita com base na cultura
popular de origem africana, indígena, ibérica e moura, e, com isto, fortalecer
a ideia de uma identidade cultural brasileira.
Zeloso
com a Língua Portuguesa, Ariano não pactuava com a grafia errada de palavras
com a finalidade de preservar suas pronúncias na língua falada.
- No
“Auto da Compadecida” não tem um erro de português. – dizia.
![]() |
JOÃO GRILHO E CHICÓ |
Aos que
não sabem, essa obra é um importante texto popular do teatro moderno. Nela,
seus personagens são alegóricos; não são indivíduos, mas imagens que
refletem o estado permanente em que vivem. Entre eles, os popularíssimos João
Grilo e Chicó.
- Com qual deles mais se identifica? – pergunta um
jornalista.
- João Grilo, responde. É mais astucioso; no
entanto, devo ser uma mistura de João Grilo com predominância de Chicó. –
finaliza.
Ariano
era um homem extremamente simples:
- O meu
inglês é fraco: dá para a revista Time, mas para ler Shakespeare, não. – costumava dizer.
Mas
padece de algo incomum: não cabe em um resumo. Portanto, este texto não o circunscreve
inteiramente. Por isso, convido o leitor a interagir com a sua obra.
Ariano Suassuna foi membro da Academia Brasileira
de Letras. Quando contei isso ao meu
amigo Ângelo Rafael Latorre D’Óleo, o Defunteiro de Bebedouro, e acrescentei a
minha admiração pelo escritor, aproveitei e estendi a ele o convite para a
minha posse, dia 12 de junho de 2016, na
Academia de Artes e Letras de Barretos na condição de Membro correspondente. Já
exerço essas funções na Academia Ribeirãopretana* de Letras, cuja grafia, por
uma questão de tradição, é pertinente à época da sua fundação.
ÂNGELO DAÓLIO |
Ele ficou possesso: repudiou Ariano como acadêmico
e recusou o convite para a minha posse. Durante alguns dias, não conversou
comigo. Tampouco me chamou de “Gutooo” conforme é o hábito dele. Refleti
profundamente a respeito da atitude comportamental do Ângelo. Afinal, temos uma grande amizade . Por fim, descobri o motivo:
Todo Agente Funerário não passa em frente à Academia Brasileira
de Letras nem de qualquer outra. A classe detesta Imortais...
Poema registrado na Agência Brasileira do ISBN (International Standard Book Number) - Ministério da Cultura - Fundação Biblioteca Nacional, sob número 978-85-63853-54-7.
Crédito da imagem: Google
Nenhum comentário:
Postar um comentário