sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Homo Sapiens et Demens


O estilo arquitetônico de um edifício Panóptico - utilizado em prisões, sanatórios, internatos etc. - é um círculo dividido em pequenas celas. Estas possuem janelas para o exterior, a rua, e para o interior da edificação, o pátio. Conclui-se, portanto, que não há sombras no interior delas.

No centro do pátio há uma torre. Nela, fica um vigilante. Venezianas e labirintos interligam as salas da torre, eliminam a luz, ruídos, impedindo a localização do vigilante. Ele tudo vê dentro das celas, mas não é visto. Apenas pressentido.

Em 1789, quando esse edifício foi projetado pelo filósofo inglês Jeremy Bentham, o circuito interno de TV não existia. Óbvio, não é?

No momento atual, pensar a humanidade dentro de um edifício Panóptico e submissa aos rigorosos poderes dominantes, muitas vezes não identificados,  é profundamente desconcertante. Infelizmente, essa é a realidade.

O Homem é dominado pela violência econômica, física, trabalhista e psicológica – entre muitas - desses poderes, resultado da diferente compreensão que cada ser humano tem do outro, apesar de sermos seres de linguagem. Com base nessas diferenças, surge, inclusive, a legitimação de injustificadas razões históricas.

Algumas vezes, os cenários do acerto de contas desse desrespeito às diferenças – as guerras – são suavizados através de uma estratégia que adia por pouco tempo o sofrimento e/ou a morte das pessoas: a Trégua Humanitária (?).

Dentro desse contexto, existe uma imagem digital que mostra um menino negro sob o sol, talvez africano, com uma pequena ovelha nos braços. Ele é um pequeno pastor e, com certeza, sem as sandálias dos pastores bíblicos. Portanto, descalço.

Nada se sobrepõe à preocupação de sua expressão fisionômica em proteger a ovelhinha. Esta exibe um olhar doce, peculiar da paz dos protegidos. Nem mesmo o avião de caça - predador de vidas humanas - sobrevoando sua região, municiado com mísseis e, quem sabe, batizado de “Herodes”. É comum os pilotos batizarem suas máquinas mortíferas com nomes fortes.

Que bom se o avião de caça carregasse a Paz, a exemplo do menino pastor que, impotente diante do poder que esmaga seu país, agasalha nos braços cheios de humanidade a ovelha que se entrega à pureza do abraço protetor.Seria Natal? Não sei. Mas o menino nos lembra da sacralidade do Natal. A maneira como vive e procede é a mesma  de alguns personagens natalinos, os pastores.

No próximo Natal, caso esteja vivo, ele estará novamente no cenário  semelhante ao presépio. Mas outro menino, o sírio Aylan Shenu que, aos três anos – fugindo da guerra - morreu afogado no mar Egeu (Síria), nunca mais estará em seu habitat natalino.  Apesar disso, a grandeza dele e da dimensão simbólica que passa a representar não couberam naquele mar que, envergonhado, o devolveu a terra firme.





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