terça-feira, 5 de novembro de 2019

Não à privatização dos Correios


Outros poderão explicar melhor do que eu, mas, no final da década de 70 ou durante a década de 80, o ministro da Economia ou Planejamento (não me recordo) transferia todo o superavit dos Correios ( uma das poucas estatais superavitárias: no braço, na força de vontade de seus empregados, sem nenhum recurso da União) para os ralos do governo. Entre eles, o I.N.S.S.

Habilmente, um dos presidentes da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos criou um mecanismo para ela fechar o balanço anual no vermelho (prejuízo). A diferença entre o antigo lucro e o prejuízo instaurado (R/D: receita sobre despesa) passou a ser investida em treinamento de pessoal (algo importantíssimo), aumento do efetivo (desde que a demanda dos serviços comprovasse a necessidade de contratações), adequações das agências, centros de triagem (entrepostos), centros de distribuição domiciliares, áreas administrativas, para um melhor atendimento aos clientes externos e internos (estes, os funcionários),aquisição de uma frota de veículos adequada etc.

A continuidade do "fechamento no vermelho" proporcionou, também, a aquisição de maquinários fantásticos, semelhantes aos correios dos países ricos, visando a implantação de novas técnicas operacionais: o Código de Endereçamento Postal (uma delas) necessitava da leitura ótica. Imagine isso em 1972.

Apenas para evitar dúvidas: atualmente, os dicionários registram óptica e ótica considerando-os termos equivalentes. Somente o Vocabulário Oficial da Língua Portuguesa tem força de lei, os dicionários não. Pelo Vocabulário, num primeiro momento, não poderia haver equivalência entre essas palavras de grafias diferentes. Mas se o leitor prestar atenção ao Verbete no Vocabulário (lei), verificará que existe equivalência. Por isso, optei pelo termo ótica.

Houve, também, a implantação da Rede Postal Aérea Noturna . Através dela, as correspondências "viajavam" à noite (enquanto você dormia) e chegavam ao destino no dia seguinte. Atualmente, apesar da continuidade da chegada pontual proporcionada pela Rede Postal Aérea Noturna, as correspondências ficam retidas nos entrepostos ou, então, nas unidades de entrega. Por falta de mão de obra, entre outros motivos, há um expressivo atraso na entrega.

Dotada de um eixo humano, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos criou programas para os funcionários aidéticos, alcoólatras, usuários de drogas etc. Treinou as equipes onde esses funcionários atuavam (atualmente o termo é colaboradores) para que prevalecesse um excelente clima organizacional (a satisfação de todos) e um permanente apoio aos colegas que passavam por esses problemas.

Implantou o Convênio Médico e Odontológico com custos compativelmente compartilhados (extensivo aos aposentados), mas, mesmo assim, para cobrir as despesas de convênio que lhe cabia, buscava recursos no mercado, não nas tetas do governo. Neste caso, a palavra é usada em sentido figurado: significa tirar do governo. Enfim, uma metáfora. O sentido real da palavra teta seria aplicável somente à Zoologia: glândulas mamárias das fêmeas dos animais irracionais: vacas, cabras, búfulas, ovelhas.

Por outro lado, duvido que uma empresa da iniciativa privada queira, em sua rede de agências, cidades do interior do Nordeste, Norte, entre outras regiões do país.

Pela Constituição Federal, a Empresa de Correios e Telégrafos é obrigada a manter, em todos os municípios do pais, pelo menos uma unidade. Ainda mantém, mas até algumas décadas passadas, mantinha e o lucro nunca deixou de existir mesmo que a agência criada, ou já existente por dispositivo constitucional, fosse deficitária. Nenhum banco particular instala uma unidade de atendimento em cidades que não darão lucros (antes, fazem uma pesquisa de mercado).

Com o advento da Internet, o Correio diversificou suas atividades, entrou em outras áreas do mercado para repor aquilo que a Internet levou.

Outro presidente dos Correios (o único que veio do chão da empresa, ou seja, era funcionário de carreira) propôs ao governo federal a autogestão (a empresa se responsabilizaria pelos "eventuais" prejuízos, mas ficaria integralmente com os lucros). O governo vetou a proposta. Por quê?

No meu tempo, a relação empresa x empregado pautava-se por uma relação de direitos x deveres rígida, totalmente dentro da legalidade, e o que é muito difícil encontrar por aí: humanidade. E dava lucro. E dava satisfação trabalhar nos Correios. E dava segurança aos seus empregados. E a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos tinha a confiança plena dos brasileiros. Trabalhei lá 35 anos (até aposentar-me). 

Autor: Augusto Aguiar



Um comentário:

  1. Falou tudo Augusto.Trabalhar nos Correios sempre foi motivo de orgulho e satisfação.

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