Escrever
é cortar palavras. Essa frase e Graciliano Ramos são inseparáveis. Para
Graciliano, a palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a
palavra foi feita para dizer.
Nesse
contexto, Aurélio Buarque de Holanda expõe
objetivamente o estilo de Graciliano: “Escreve como quem passa um telegrama,
pagando caro por palavra. Nele nada se perde e nada falta”.
Oscar
Pilagallo – editor da revista EntreLivros (título já fechado) – define o traço
da escrita de Graciliano: “Como escritor, ele tinha dois trabalhos: fazer e
desfazer o texto. O primeiro era mais fácil. A sua grande arte residia no
segundo. Quando não havia mais uma vírgula que pudesse ser jogada fora, o livro
estava pronto”.
E
acrescenta: “Não se pense, porém, que o mesmo estilo levasse a resultados
semelhantes”. Ou seja, as obras de Graciliano não se repetem sob um mesmo
método fixado. Cada um dos seus romances são diferentes.
O
crítico Otto Maria Carpeaux dizia que Graciliano era um “clássico
experimentador”. Para ele, cada obra era um tipo diferente de romance.
Carpeaux, então, explica: “Caetés é de um Eça de Queiroz brasileiro; São
Bernardo tem algo de um Balzac rural; Angústia antecipa o novo romance e Vidas
Secas lembra certos contistas russos, Babel, por exemplo”.
Essas
afirmações levam-nos a uma analogia: Graciliano teria mais a ver com esses
escritores do que com os da Semana da Arte Moderna de 22. “Um autor usualmente
associado ao regionalismo, mas que na verdade é um dos escritores mais
inclassificáveis da literatura brasileira.”, prefere defini-lo Manuel da Costa
Pinto, jornalista e crítico literário.
O
seu romance psicológico apenas “parece” regionalista. O romance
psicológico revela a identidade psicológica do narrador-protagonista, o seu
jeito de enxergar e sentir o ambiente que o cerca. A forma de expressão dá-se
pelo monólogo interior. Portanto, através do foco narrativo em primeira pessoa.
Graciliano,
então, remete as suas vivências para a literatura: “Minhas personagens não são
seres idealizados, e sim homens que eu conheci. Todos os meus tipos foram
constituídos por observações apanhadas aqui e ali, durante muitos anos. É o que
eu penso, mas talvez me engane. É possível que eles não sejam senão pedaços de
mim mesmo e que o vagabundo, o coronel assassino, o funcionário e a cadela não
existam”.
Carpeaux
arremata: “O lirismo de Graciliano Ramos é amusical, adinâmico: é estático,
sóbrio, clássico, classicista [...] Não quer dissolver o mundo agitado, quer
fixá-lo”.
O
seu estilo era comparado à semelhança do mandacaru. Oswald de Andrade afirma:
“Graciliano Ramos é um mandacaru escrevendo”. Comparação perfeita! A planta
típica do sertão floresce exatamente na seca. Entre os seus espinhos surge uma
flor branca, de textura delicada. Assim é a forma de Graciliano escrever. A sua
concisão lírica cabe num átomo.
(Augusto
Aguiar)
Filiado
à União Brasileira de Escritores – UBE
Fontes:
Revista Discutindo Literatura – edição 18 – Clenir Bellezi de Oliveira
Revista Problemas Brasileiros –edição 411 – maio/junho 2012 – Cecília
Prada
Revista EntreLivros – edição 19
Revista Cult – edição 42 – Manuel da Costa Pinto
O Globo – edição 09/04/2005 - Estante da Crítica II – Wilson Martins
História da Inteligência Brasileira – volume VII – Wilson Martins
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