quinta-feira, 24 de maio de 2012

Graciliano Ramos : estrela da prosa de ficção

Escrever é cortar palavras. Essa frase e Graciliano Ramos são inseparáveis. Para Graciliano, a palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.
Nesse contexto,  Aurélio Buarque de Holanda expõe objetivamente o estilo de Graciliano: “Escreve como quem passa um telegrama, pagando caro por palavra. Nele nada se perde e nada falta”.
Oscar Pilagallo – editor da revista EntreLivros (título já fechado) – define o traço da escrita de Graciliano: “Como escritor, ele tinha dois trabalhos: fazer e desfazer o texto. O primeiro era mais fácil. A sua grande arte residia no segundo. Quando não havia mais uma vírgula que pudesse ser jogada fora, o livro estava pronto”.
E acrescenta: “Não se pense, porém, que o mesmo estilo levasse a resultados semelhantes”. Ou seja, as obras de Graciliano não se repetem sob um mesmo método fixadoCada um dos seus romances são diferentes.
O crítico Otto Maria Carpeaux dizia que Graciliano era um “clássico experimentador”. Para ele, cada obra era um tipo diferente de romance. Carpeaux, então, explica: “Caetés é de um Eça de Queiroz brasileiro; São Bernardo tem algo de um Balzac rural; Angústia antecipa o novo romance e Vidas Secas lembra certos contistas russos, Babel, por exemplo”.
Essas afirmações levam-nos a uma analogia: Graciliano teria mais a ver com esses escritores do que com os da Semana da Arte Moderna de 22. “Um autor usualmente associado ao regionalismo, mas que na verdade é um dos escritores mais inclassificáveis da literatura brasileira.”, prefere defini-lo Manuel da Costa Pinto, jornalista e crítico literário.
O seu romance psicológico apenas “parece” regionalista.   O romance psicológico revela a identidade psicológica do narrador-protagonista, o seu jeito de enxergar e sentir o ambiente que o cerca. A forma de expressão dá-se pelo monólogo interior. Portanto, através do foco narrativo em primeira pessoa.
Graciliano, então, remete as suas vivências para a literatura: “Minhas personagens não são seres idealizados, e sim homens que eu conheci. Todos os meus tipos foram constituídos por observações apanhadas aqui e ali, durante muitos anos. É o que eu penso, mas talvez me engane. É possível que eles não sejam senão pedaços de mim mesmo e que o vagabundo, o coronel assassino, o funcionário e a cadela não existam”.
Carpeaux arremata: “O lirismo de Graciliano Ramos é amusical, adinâmico: é estático, sóbrio, clássico, classicista [...] Não quer dissolver o mundo agitado, quer fixá-lo”.
O seu estilo era comparado à semelhança do mandacaru. Oswald de Andrade afirma: “Graciliano Ramos é um mandacaru escrevendo”. Comparação perfeita! A planta típica do sertão floresce exatamente na seca. Entre os seus espinhos surge uma flor branca, de textura delicada. Assim é a forma de Graciliano escrever. A sua concisão lírica cabe num átomo.
(Augusto Aguiar)
Filiado à União Brasileira de Escritores – UBE


Fontes:
Revista Discutindo Literatura – edição 18 – Clenir Bellezi de Oliveira
Revista Problemas Brasileiros –edição 411 – maio/junho 2012 – Cecília Prada
Revista EntreLivros – edição 19
Revista Cult – edição 42 – Manuel da Costa Pinto
O Globo – edição 09/04/2005 - Estante da Crítica II – Wilson Martins
História da Inteligência Brasileira – volume VII – Wilson Martins

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...