Em 8 de dezembro de 1994, data do seu falecimento, escrevi a crônica “Tributo
a Tom Jobim”. Demorei a noite inteira: muitas idas à janela, cafés, reflexões,
algumas pesquisas. No dia seguinte o trabalho esperava-me, mas Tom mereceu o
sacrifício. Escrever a respeito dele era imprescindível. O complicado foi produzir algo para alguém
como ele. Qual o segredo? Escrevi discretamente, como é a norma dos iniciantes.
A apreensão de não cair nas armadilhas
da escrita, tropeçar na “dicção” errada da música textual, preocupavam-me. No entanto, arrisquei uma crônica. O gênero, assim,
exercitava, pela primeira vez, o atrevimento de meter-me no mundo das letras.
Aquela história do Pablo Neruda de que “Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um
ponto final. No meio você coloca idéias.” é um devaneio poético, nada mais. A realidade
é outra. As gramáticas trazem o estudo
do pronome antes do verbo. Então, fica difícil entender os pronomes oblíquos se
não se sabe classificar o verbo quanto à
predicação. E assim por diante. Napoleão Mendes de Almeida, professor e
gramático , opinava dessa forma. Um excelente gramático, apesar de ortodoxo no
assunto (como alguns o definem).
E a crônica ? – o leitor está me perguntando.
-Sim, a crônica. – respondo. Então, vamos lá:
"Meu lado sensível pediu-me esta crônica. Pedido a que, aliás, não pude deixar de atender. Falo de Tom Jobim, homem interessante, músico refinado, poeta sutil, maestro de obra farta. Deu o último suspiro, com certeza, afinado com a vida.
Delicado, gestos elegantes, amante da quietude, criou belezas musicais cuja límpidez é irretocável. Compôs Garota de Ipanema, musicando, no TOM certo, o sensual balanço de Helô Pinheiro: "Olha que coisa mais linda,mais cheia de graça...".
A canção entrou nas paradas de sucesso de todo o planeta.
Entrou, mas não pôde sair. Genialidade dá nisso !!! ".
(Autor: Augusto Aguiar - escrito em 08/12/1994)
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