segunda-feira, 30 de abril de 2012

Caipira picando fumo

Em 8 de maio de 1850, nascia em Itu uma estrela que jamais perdeu seu brilho. José Ferraz de ALMEIDA JÚNIOR, um dos mais importantes pintores brasileiros, destacou-se retratando em suas telas toda a essência e beleza rústica do ambiente que circunda o homem matuto, caipira de corpo e alma. Ele é considerado o primeiro artista brasileiro a levar para as telas essa temática regionalista. Ou seja, o cotidiano do homem caipira.  O seu olhar enxergou a sua terra como uma obra de arte. Trabalhava a partir da minuciosa observação da vida no campo e utilizava modelos reais, geralmente amigos, funcionários das fazendas da sua família ou até desconhecidos habitantes dos arredores de Itu S.P., que convidava a posarem.
Ao isolar o caipira, mostrando-o como uma pessoa solitária e despojada, ele é representado no manejo pacífico da faca.
Há, no entanto, outro olhar interpretativo nas pinturas de Almeida Júnior. O professor Jorge Coli - disciplina da História da Arte e da Cultura, Unicamp - remete-nos a esse olhar  apontando tensões presentes no universo retratado pelo pintor: “Ele pinta um cotidiano falsamente neutro, em que as ações de violência estão contidas”.  Na pintura do Caipira Picando Fumo, por exemplo, mesmo que não seja intencional, a faca é um instrumento que apresenta potencial de violência.  Noutras pinturas de Almeida Júnior repete-se a presença de armas: “Derrubador Brasileiro”, o machado; Caipiras Negaceando, a espingarda. Ao picar o fumo, o caipira utiliza uma faca fina e longa. Ela está no centro do quadro, no meio exato de uma cruz formada pelos antebraços, pela costura da braguilha, pela abertura da camisa no peito, cujo V funciona como uma seta (que pode ser equiparada a uma arma), apontando de cima para baixo.
Sem nenhuma concessão a um pitoresco feito de detalhes supérfluos, o picador de fumo, na sua postura concentrada, expondo de modo tão crucial a sua faca, interpondo-a de fato entre si mesmo e o admirador do quadro, protege-se, protege sua autonomia individualizada, protege, pela violência possível, o lugar frágil que ocupa no mundo.
Fontes:
Livros: A Violência e O Caipira  - autor, Jorge Coli
Revistas: artigos de João José “Tucano” da Silva, Rose Ferrari – Revista Campo & Cidade (Itu)
Folder da Prefeitura da Estância Turística de Itu

2 comentários:

  1. i never think about you siga o twitter @aracitoptherm

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  2. Muito boa sua observação , Augusto . ;)

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