terça-feira, 30 de outubro de 2012

Assis Chateaubriand: perfeito em literatura política

ASSIS CHATEAUBRIAND: PERFEITO NA LITERATURA POLÍTICA

Assis Chateaubriand – um  homem fascinante, polêmico  - fundador e dono dos Diários Associados, na época o maior grupo de comunicações do Brasil,  era também qualificado com os piores adjetivos. Tarado, chantagista, ladrão, caloteiro, soavam como elogios.  Na verdade, os seus desafetos incorporaram à nossa língua, sem nenhum pudor, neologismos que aumentaram os verbetes dos Dicionários do Palavrão. Esses dicionários existem ?- perguntar-me-ão.
- Claro que sim ! – responderei sem nenhuma hesitação.
O Dicionário do Palavrão e Termos Afins, autor Mário Souto Maior, prefácio de Gilberto Freyre, comprova a minha afirmação.
Mas a inteligência, o espírito empreendedor, o estilo visionário, eram inerentes ao grande homem das comunicações.
Fernando Morais,  biógrafo de Chateaubriand, transcreveu para o livro  Chatô, O Rei do Brasil esta  conceituação do médico e educador Miguel Couto (1865-1934).
 “Embora nunca tenha produzido uma sílaba de ficção,  Chateaubriand era ‘um literato de calibre muito superior ao da maioria dos imortais da Academia’ ”.  
No entanto, Chateaubriand escreveria o livro Terra Desumana – com um subtítulo provocador : A vocação revolucionária do Presidente Artur Bernardes – uma crítica ao governo do então presidente . Ele e o presidente da República não se bicavam.
Artur Bernardes governou o país (1922-1926) através do dispositivo constitucional denominado Estado de Sítio, que sobrepunha os poderes do governo em relação aos direitos e liberdades individuais. Essa medicação foi ministrada devido à instabilidade política vigente.
Esperto, Chateaubriand lançou o livro após o término do mandato de Artur Bernardes, em 1926. Caso contrário, a edição teria sido tirada de circulação.
Terra Desumana seria incensada, após a  morte de Chatô  , por um dos maiores críticos literários do Brasil, Wilson Martins, na página 423, volume 7 - da História da Inteligência Brasileira (7 volumes). É uma das obras mais importantes – e já a caminho da raridade – para o estudo da Literatura Brasileira (desde 1550). Vejamos, então, as suas conclusões:
 “...livro mais devastador escrito contra Artur Bernardes ou, de fato, contra qualquer presidente brasileiro. É um dos panfletos mais brilhantes de nossa literatura política, escrito com inteligência vibrante e incomparável agudeza, análise profunda de um caráter e desenho de uma mentalidade como jamais se havia feito no país – e como ninguém voltaria a fazer depois dele. Afligido por ‘alarmante insuficiência intelectual’, dizia Chateaubriand, Bernardes ‘sufocou  todo o potencial cívico da nação, com imposturas, que reclama a sua incapacidade para dirigir um Estado moderno, policiado pela crítica e o debate das questões de ordem geral “.
Fernando Morais, com muita elegância e humor, termina o livro Chatô, O Rei do Brasil com esta passagem, que transcrevo com algumas alterações:
Apaixonado por obras de arte, Chatô fundou o MASP (Museu de Arte de São Paulo), implantando ali o estilo Chateaubriand. Foi o pioneiro da TV no Brasil.
No seu velório, o Diretor do MASP, Pietro Maria Bardi, a contragosto do Diretores dos Diários Associados , mandou colocar na parece, logo acima do caixão, três monumentais obras de arte:
No centro, A Banhista, de Renoir, logo acima de Chateaubriand, com os seios descobertos. De um lado a tela Retrato do Cardeal Cristóforo Madruzzo, organizador do Conselho de Trento, do pintor Ticiano, e do outro lado, na mesma altura,  a tela com o esplendoroso retrato de corpo inteiro de d. Juan Antônio Llorente, secretário da Inquisição espanhola, pintada por Goya.
Questionado pela cúpula dos Associados, que considerava inoportuna a presença dessas obras de arte no velório, Pietro Maria Bardi disse a um dos diretores:
-Mas doutor, esta é a minha última homenagem a Assis Chateaubriand, entende ? Nesta parede estão as três coisas que ele mais amou na vida: o poder, a arte e mulher pelada.
(Augusto Aguiar – 30/10/2012 – 15h25min)
Crédito da imagem: 
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/
E-mail para contato: augusto-52@uol.com.br


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