ASSIS CHATEAUBRIAND: PERFEITO NA
LITERATURA POLÍTICA
(Augusto
Aguiar – 30/10/2012 – 15h25min)
Crédito da imagem: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/
E-mail para contato: augusto-52@uol.com.br
Assis Chateaubriand – um homem fascinante,
polêmico - fundador e dono dos Diários
Associados, na época o maior grupo de comunicações do Brasil, era também qualificado com os piores adjetivos.
Tarado, chantagista, ladrão, caloteiro, soavam como elogios. Na verdade, os seus desafetos incorporaram à
nossa língua, sem nenhum pudor, neologismos que aumentaram os verbetes dos
Dicionários do Palavrão. Esses dicionários existem ?- perguntar-me-ão.
- Claro que sim ! – responderei sem nenhuma hesitação.
O Dicionário do Palavrão e Termos Afins, autor Mário Souto
Maior, prefácio de Gilberto Freyre, comprova a minha afirmação.
Mas a inteligência, o espírito empreendedor, o estilo
visionário, eram inerentes ao grande homem das comunicações.
Fernando Morais, biógrafo de Chateaubriand, transcreveu para o
livro Chatô, O Rei do Brasil esta conceituação do médico e educador Miguel Couto
(1865-1934).
“Embora nunca tenha
produzido uma sílaba de ficção, Chateaubriand era ‘um literato de calibre
muito superior ao da maioria dos imortais da Academia’ ”.
No entanto, Chateaubriand escreveria o livro Terra Desumana – com um
subtítulo provocador : A vocação revolucionária do Presidente Artur Bernardes –
uma crítica ao governo do então presidente . Ele e o presidente da República
não se bicavam.
Artur Bernardes governou o país (1922-1926) através do dispositivo
constitucional denominado Estado de Sítio, que sobrepunha os poderes do governo
em relação aos direitos e liberdades individuais. Essa medicação foi ministrada
devido à instabilidade política vigente.
Esperto, Chateaubriand lançou o livro após o término do mandato de Artur Bernardes,
em 1926. Caso contrário, a edição teria sido tirada de circulação.
Terra Desumana seria incensada, após a morte de Chatô
, por um dos maiores críticos literários do Brasil, Wilson Martins, na
página 423, volume 7 - da História da Inteligência Brasileira (7 volumes). É
uma das obras mais importantes – e já a caminho da raridade – para o estudo da
Literatura Brasileira (desde 1550). Vejamos, então, as suas conclusões:
“...livro mais devastador escrito
contra Artur Bernardes ou, de fato, contra qualquer presidente brasileiro. É um
dos panfletos mais brilhantes de nossa literatura política, escrito com
inteligência vibrante e incomparável agudeza, análise profunda de um caráter e
desenho de uma mentalidade como jamais se havia feito no país – e como ninguém
voltaria a fazer depois dele. Afligido por ‘alarmante insuficiência
intelectual’, dizia Chateaubriand, Bernardes ‘sufocou todo o potencial cívico da nação, com
imposturas, que reclama a sua incapacidade para dirigir um Estado moderno,
policiado pela crítica e o debate das questões de ordem geral “.
Fernando Morais, com muita elegância e humor, termina o livro Chatô, O
Rei do Brasil com esta passagem, que transcrevo com algumas alterações:
Apaixonado por obras de arte, Chatô fundou o MASP (Museu de Arte de São
Paulo), implantando ali o estilo Chateaubriand. Foi o pioneiro da TV no Brasil.
No seu velório, o Diretor do MASP, Pietro Maria Bardi, a contragosto do Diretores
dos Diários Associados , mandou colocar na parece, logo acima do caixão, três
monumentais obras de arte:
No centro, A Banhista, de Renoir, logo acima de Chateaubriand, com os seios
descobertos. De um lado a tela Retrato do Cardeal Cristóforo Madruzzo,
organizador do Conselho de Trento, do pintor Ticiano, e do outro lado, na mesma
altura, a tela com o esplendoroso
retrato de corpo inteiro de d. Juan Antônio Llorente, secretário da Inquisição
espanhola, pintada por Goya.
Questionado pela cúpula dos Associados, que considerava inoportuna a
presença dessas obras de arte no velório, Pietro Maria Bardi disse a um dos
diretores:
-Mas doutor, esta é a minha última homenagem a Assis Chateaubriand,
entende ? Nesta parede estão as três coisas que ele mais amou na vida: o poder,
a arte e mulher pelada.
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