domingo, 5 de maio de 2013

José Lins do Rego tropeça na etiqueta

Em 1955, José Lins do Rego ingressou na Academia Brasileira de Letras. No seu discurso de posse, o escritor, referindo-se ao seu antecessor, comentou:
-Ataulfo de Paiva chegou ao Supremo Tribunal Federal sem ter sido um juiz sábio e à Academia sem nunca ter gostado de um poema.
Verdade ou não, esse tipo de abordagem é reprovável num ato solene. Note que, no caso acima, Zé Lins foi indelicado. 
A partir desse fato, a Academia interveio na questão: todo discurso de posse passaria por uma análise prévia.
Há alguns anos, numa cidade da minha região e na condição de integrante do capital humano dos Correios, ministrei uma palestra num clube considerado uma das forças vivas da sociedade. Não estavam previstas perguntas, mas surgiram e delicadamente as respondi.
De repente, estimulado por umas cervejinhas a mais, um desembargador, recém-aposentado, perguntou-me:
-O que significa a palavra Correios?

A transcrição da pergunta não denota a expressão fisionômica maliciosa do seu autor. Era como se me dissesse:

-Te peguei. E agora ?

Para essa pergunta, ocorrem duas respostas. Caso omitisse uma delas, ele exploraria esse espaço vazio. Em seguida, respondi:

-Etimologicamente, a palavra Correios significa andar depressa, acelerado. Por outro lado, na condição de pessoa  jurídica, é a empresa pública detentora do monopólio dos serviços postais e telegráficos no Brasil.

E acrescentei:

- Em 1961, época do governo de Jânio Quadros, cursava o primeiro ano primário e a professora já nos dava noções elementares da etimologia das palavras. Em primeiro lugar na escola; depois, nos Correios, aprendi o significado dessa palavra. 

Ocorreu, então, o inesperado. Lembrei-me do professor Reinaldo Polito, destacado especialista no ensino da expressão verbal, cujo CD, anexo a um dos seus livros, traz um pronunciamento de Jânio Quadros, orador habilidoso. Isso era tudo que precisava.
-Já que mencionei Jânio Quadros, vou contar uma história rápida. – disse aos presentes.
-Certa vez, ele ministrava uma conferência em uma das faculdades de São Paulo – fui relatando – quando um aluno o interrompeu:

-Você conhece Benjamin Flanklin ?

Jânio respondeu:
-Não, não conheço o inventor do pára-raios. Conheço o Benjamin Franklin orador, filósofo, diplomata, estadista. Pois bem, ele certa vez disse com muita propriedade : “a intimidade produz aborrecimentos e filhos”. E com o senhor não desejo nem uma coisa, nem outra.
Todos riram, menos o desembargador. Ou melhor, ex-desembargador. 


Crédito da imagem: http://www.igabrasil.org.br
Agradeço ao site www.stilocidade.webnode.com por divulgar esta matéria


Um comentário:

  1. Inteligente, reflexivo, cheio de humor e educativo. Parabéns pela crônica!

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