ESCRITOR CEZAR AUGUSTO BATISTA
Construtor de uma obra eclética
A produção literária do escritor Cezar Augusto Batista tem uma narrativa pautada pelo estilo eclético. Através do seu livro inaugural "Como (Não) Administrar: Lições Extraídas do Cotidiano de Um Grande Banco no Brasil", analisa, com densidade humanística e integridade de caráter, algumas posturas em Administração. Inclusive as fragilidades e inconstâncias do mundo corporativo.
Em um outro desdobramento do seu estilo, faz sobrevoos filosóficos sobre a literatura da psique. Lança:"Soltando-se dos Braços da Depressão", o voo; "Ame-se : Ensaio sobre a Autoestima", o sobrevoo. Neste último, elabora um ensaio filosófico que está, na maioria das vezes, ausente em outros autores do tema.
Por último, salta para a Crônica, gênero literário leve, com saborosos casos do dia a dia. Publica: "Vamos Gozar a Vida? " e "Gutas", entre outros.
Aceitou colaborar com o Blog concedendo-nos esta entrevista. De início, endereçamos perguntas pertinentes ao seu solo profissional, o autor é aposentado do Banco do Brasil. Natural de Maringá, estado do Paraná, veio ainda criança para Ribeirão Preto, onde reside.
Em seguida, abordamos o Cezar escritor . São oito livros publicados e duas reedições. Uma façanha para um escritor independente uma vez que - no mercado editorial - Harry Potter foi recusado por uma editora que sua autora procurou.
Cezar e eu já pisamos muitos chãos comuns e a cada conversa vamos descobrindo outros. Aliás, éramos velhos conhecidos sem nunca nos termos visto. Recentemente, tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente.
De uma forma cúmplice e silenciosa, firmamos um pacto a respeito desta entrevista: seguir a máxima de que "...em negócios não cabe o sentimentalismo da amizade, mas o rigor das garantias". Parece uma conduta fria, mas não é. Note-se, porém, esta diferença: não havia outro caminho ético - entre dois amigos e irmãos em mais de uma escola filosófica - para respeitar o leitor que se deparar com esta matéria. E assim foi feito. Não se puxa o tapete debaixo dos pés do leitor.
As perguntas foram rigorosamente elaboradas e da mesma forma respondidas. Ou seja, perguntas e respostas concretas ao invés de vagas.
Por fim, quero homenagear o entrevistado, cuja cor preferida é o azul, com esta frase de Ortega y Gasset (1883-1955) :
"Eu sou eu e a minha circunstância, se não salvo a ela, não me salvo a mim".
Parabenizo-o, Cezar, por escrever sem timidez filosófica e ajudar tantas pessoas a se tornarem melhores, após emergirem do mergulho nos seus textos de autoestima/autodisciplina filosófica e seguirem a vida, sem sobressaltos.
T.'.F.'.A.'. e votos de Paz Profunda!
} .'. {
ENTREVISTA
A mesa de trabalho é do gestor ou da empresa?
Por exemplo, numa ocasião que, devido às circunstâncias, o
atendimento deva ser revestido do caráter da excepcionalidade quer na
presença, quer na ausência do gestor.
Como bem patrimonial as mesas de trabalho, computadores e outros
utensílios necessários ao desempenho das tarefas, pertencem à empresa.
Especificamente, a mesa de trabalho do gestor deve ser individualizada no caso
daquele exercer sua atividade o dia todo, não havendo problema do seu
substituto ou outro funcionário utilizá-la, na sua ausência, para atendimento a
um cliente, desde que deixe tudo em ordem, e de preferência não mexa nas
gavetas. Houve uma época no Banco devida às reformulações que todos trabalhavam
apenas um turno, por exemplo: uma turma das 7 às 13h e outra das 13 às 18h,
quando se fez necessária a ocupação de uma mesma mesa e demais objetos por dois
funcionários. Daí há de se ter compreensão e colaboração mútuas.
Uma Teoria de Administração com contornos de organização militar de
linha (ordens de cima para baixo) teria ficado para trás junto com o século 20. Ainda existem resíduos daquela época, administradores que mandam como ninguém e que não deixam ninguém impune, caso a equipe esteja mais adequada com o momento atual?
Acredito que sempre existiram, e continuam existindo, os chefes
mandões e os chefes verdadeiramente líderes. Entretanto, de bons tempos para cá
a tendência tem sido uma maior abertura entre os comandantes e os comandados
dentro de uma empresa. Nas Forças Armadas, já que falei em comando, acredito
que a rigidez continua, o que não condeno porque isto é preciso naquelas
organizações e também porque há muitos que tem dificuldades em obedecer, em
seguir regras, e naquele tipo de trabalho não pode haver esses desvios
–chamemos assim – e o respeito ali é ainda mais fundamental que em organizações
comerciais.
Atualmente, prevalecem o diálogo e uma participação maior dos
funcionários em algumas decisões administrativas. Leio a respeito e converso
com jovens administradores e pessoas da área de Recursos Humanos, que trabalham
em empresas que lidam com criação, com projetos de informática, com internet, e
que me contam a liberdade que têm em desempenhar suas tarefas e opinar.
No Gerenciamento de Competências e Resultados das empresas, a meta
“solução de problemas complexos” é sempre superada pela minoria dos
colaboradores, prováveis candidatos à ascensão profissional. Na sua concepção,
os gestores aferem a pureza ética dos critérios utilizados nessas soluções e os efeitos que produzem no clima organizacional?
Continuo entendendo que varia muito de acordo com a filosofia da
empresa e a cabeça do administrador. Ainda acho que a competência é pouco
considerada e premiada. Vi muitos gestores ‘roubando’ ideias de funcionários e
levando aos superiores como se fossem deles. Juntando a isso o cerceamento de
opiniões que podem ajudar no crescimento de uma organização, por inveja ou
receio ou quaisquer outros motivos, muitos deixam de se manifestar. Sem dúvidas, quanto maiores a ética, a transparência e a
lealdade, melhores serão os efeitos no clima organizacional.
Nas empresas, dentre outros, há dois eixos que se
confrontam, mas na realidade teriam de se completar: o comercial e o humano. A
sobrevivência no mercado prioriza o aspecto comercial. Nele, somente nele, investem-se "injeções motivacionais". O capital humano das empresas carece de solvência afetiva, isto é, não recebe afeto. Por quê?
No meu caso, em particular, vivi dois tempos bem diferentes: em
um deles preocupava-se com o desempenho da instituição e também com o bem estar
dos funcionários; em outro, a preocupação passou a ser apenas com os números.
Felizmente aposentei-me porque vejo, e claro não sou somente eu, que a cobrança
sobre os funcionários atuais é muito grande, às vezes chegando a ser desumana.
De modo geral, embora os homens de recursos humanos tentem
manter e evidenciar o valor do trabalhador como ser humano, o Capitalismo
torna-se a cada dia mais predatório.
Você conheceu as apostilas para concursos do Banco do Brasil, autor Júlio Cunha, seu colega de banco. Destaco a de Matemática Financeira, 564 páginas, cujo aspecto didático é a metodologia por raciocínio e por fórmulas (com objeções a algumas destas por não serem eficazes em alguns casos).
Qual a importância desse material de estudo na sua vida?
Importância muito grande, não só para conseguir ser aprovado no
concurso de admissão, como também para aprendizado e consulta por longo tempo.
Mas para falar a verdade, não tenho nenhuma apostila dele comigo e há muito não
as vejo.
Esta pergunta fez-me lembrar de outra apostila que utilizei
durante um largo período e emprestei a muitos amigos, e que não mais possuo:
era apenas de matemática, elaborada também por um colega com o qual cheguei a
trabalhar em meados da década de 1970 na agência Centro Ribeirão Preto, a única
da cidade à época, Ricardo Amidani. Ele chegou a escrever um livro sobre o
problema das “filas”.
Quando nasceu Cezar Augusto Batista, o
escritor?
Antes de aprender a ler e escrever no
papel, já escrevia no meu cérebro. No papel, logo que aprendi a ler, uma das
minhas irmãs indicava-me os livros e fazia eu comentar por escrito.
Quais dos seus livros são intimistas,
confessionais?
“Soltando-se dos braços da depressão”.
- numa das orelhas = "poucos tiveram a sua coragem: revelar os
sentimentos por trás do escuro véu que turva os olhos para os momentos alegres
do viver’.
O seu livro “Soltando-se dos Braços da
Depressão” parece ter um paralelo involuntário – o que é um deleite
para o leitor – com “Ame-se: Ensaio
Sobre Autoestima”, publicado posteriormente
àquele. Procede a minha analogia?
Procede, sim. Escrevi o segundo sem mesmo perceber a
ligação entre os dois.
Quem observou foi uma amiga de mais de 40 anos, Rosacruz, com
quem trabalhei na Prefeitura e depois, coincidentemente, no Banco, uma das
poucas pessoas que conseguiram ir aos três lançamentos que realizei, apesar de
que muitos amigos não foram aos três mas compraram todos, e que me disse: “Poxa,
Cezar. Um livro complementa o outro”. Seu nome: Florícia Akiko Sawada Carvalho,
o qual consta na dedicatória do “Histórias de Arquibaldo”.
Ressalto que o “Soltando-se dos braços da depressão” é de foro
íntimo, enquanto o “Ame-se – ensaio sobre autoestima” é impessoal, e ouso
classificá-lo como ensaio filosófico.
Em “Sinta-se
Grato” - livro de uma essência
exuberante – solidariza-se com o amor que recebe. Reconhece as pessoas que
não ficam assistindo às dores, aflições e outras mazelas pelas quais o ser
humano passa. Ao contrário, assumem o sofrimento do outro e entram em ação para ajudá-lo. Inclusive, narra
fatos reais.
Num outro
extremo, anula a Lei do Revide com esta frase “Seja grato pelo amor que recebe,
seja da mesma maneira pelos ataques
que pensam que lhe fazem”.
É possível que
um dia, mesmo considerando que a pulsão é uma energia de caráter inconsciente,
o ser humano elimine totalmente a pulsão do revide.
O ‘pensam que
lhe fazem’ significa que os outros podem querer atingir-nos, mas se
conseguirmos neutralizar esses ataques, eles apenas tentarão nos machucar.
Creio que a
eliminação total do impulso do revide não ocorrerá. Porém, todos podemos
trabalhar para que seja cada vez mais diminuto e mais adequado.
A meu ver, a autoestima pressupõe algo inseparável que lhe proporciona sustentação, a autodisciplina. Ela é o processo mais difícil
para a manutenção da condição comportamental da autoestima uma vez que deverá ser uma
postura permanente, ou quase, diante dos obstáculos a transpor no dia a
dia.
Qual a sua opinião?
A manutenção é diuturna. Precisa-se trabalhar contra os pensamentos autodestrutivos e contra os ‘ataques’ externos, sem fazer disso uma prisão. O ‘ponto de equilíbrio’, comentado no livro, é fundamental.
A manutenção é diuturna. Precisa-se trabalhar contra os pensamentos autodestrutivos e contra os ‘ataques’ externos, sem fazer disso uma prisão. O ‘ponto de equilíbrio’, comentado no livro, é fundamental.
Você escreveu com mestria: "O difícil ‘na autoestima’ (aspas simples minhas) é não deixá-la cair”. Sendo a autodisciplina uma espécie de sombra da autoestima, não dá para separá-las. Juntas, evitam a derrota do sujeito (termo utilizado na psicanálise e outras ciências "Psi"). Surgem, então, duas questões:
É possível, através da autoestima/autodisciplina, escapar à camisa de força química da medicação?Ou então, os medicamentos seriam essenciais para colocar a pessoa em condições de alcançá-las?
Como leigo, penso que
em alguns casos há necessidade de medicação. Mas a autodisciplina e o constante
cuidado consigo mesmo, são sempre necessários.
A autoestima exige, entre outras atitudes, o descarte de procedimentos inadequados, inúteis subjetivamente, que são localizados e eliminados quando o Homem volta-se para dentro de si com o fim de emergir, saudavelmente, para fora. E aqui caímos na equação de Sócrates e Nietzsche: “Saúde é pensamento e pensamento é saúde”.
Em “Ame-se: Ensaio Sobre Autoestima” há uma narrativa profundamente filosófica. Qual o motivo da sua preferência por esse gênero nesse livro?
Tentei, realmente, elaborar um “ensaio”: impessoal e universal.
Alguns acham que consegui, como você pela pergunta, outros não.
Os médicos, respeitadas as exceções, até por uma questão de tempo, da estrutura e pressão do sistema, prescrevem uma lista de exames obviamente necessários. Dessa forma, a relação médico-paciente fica apenas visual, menos auditiva. Portanto, há nisso um certo esvaziamento afetivo, um mecanicismo clínico que substitui o diálogo, ou seja, desaparece a atitude filosófica que você adotou em “Ame-se: Ensaio Sobre Autoestima” e, de certa forma, no livro "Soltando-se dos Braços da Depressão" . Quando extremamente necessário, recorre-se, para preencher essa falha, ou às especialidades "Psi" ou à Filosofia Clínica, embora me pareça que esta última ainda não seja reconhecida.
Conte-nos a sua maneira de pensar o assunto.
Penso que a indústria
farmacêutica ‘dita’ muitos procedimentos médicos, exames laboratoriais,
receituários. Quanto à maioria dos profissionais ficarem olhando o computador ao invés dos
pacientes, o que foi alvo de uma crônica minha, se não me engano no
“Crônicas... de todos nós” de 2006, tem sido comentado, até mesmo, por outros colegas deles.
Alguns escritores sempre esperam surgir o melhor
poema, o melhor texto, mas eles não vêm. Esse, também, era o ponto de vista da crítica
literária sobre a obra de Oswald de Andrade.
Na condição de escritor independente bem sucedido, dono de uma
fortuna crítica (obra) respeitabilíssima, qual o seu conselho para os
escritores que padecem desse tipo de problema?
Não me julgo assim, não, contudo penso que escrevi algumas
‘coisas boas’. Sempre queremos melhorar, e com excessiva autocrítica, sonhamos
em escrever “nossa obra-prima”, contudo acredito que a maioria dos “grandes”
também não considerou que já a tivesse escrito.
Os círculos mais estreitos da Literatura causam expectativas nos autores pelo conteúdo da crítica literária. Mário Quintana não concordou e emitiu uma opinião interessante: “Escrevemos para os leitores, que são os nossos “contemporâneos”. Conclui-se, portanto: onde obviamente o crítico (o círculo) não está presente. Como você reage a isso?
Triste, mas não me vejo no círculo dos alvos dos críticos literários. E nem mesmo dos leitores em geral, porque tão pouca gente, amiga ou não, comenta os meus livros, embora saiba que muitos os conhecem. Baseando-me pelo facebook, considero que poucos leem e menos, ainda, comentam sobre livros, sejam de autores regionais, nacionais ou internacionais.
A sua vitalidade literária produziu oito livros e duas reedições. Quando virá o próximo livro?
Tenho uma ‘miscelânea’ de textos que já dá um livro. Dentro dela há dois assuntos que tenho intenção de desmembrar em dois outros trabalhos. E também escrevo um Romance, porém muito devagar. Escrever e publicar torna-se um hábito, para não chamar de vício, e talvez no final do próximo ano -2015- publique de novo. Dependerá, também, do número de exemplares que ainda possuir do “Histórias de Arquibaldo” e “Vamos gozar... a Vida?”. Do “Ame-se – ensaio sobre autoestima”, acredito e espero que não tenha mais para comercializar até o final deste ano.
Em sua opinião, a vida “muito no lugar” faz o escritor não escrever?
Acredito que sim. Quanto mais desafios mais sou impelido a desabafar, redigindo. Quanto mais fatos tenho a observar, mais enxergo motivos para relatar.
Você já fez Yoga ou apenas teve contato com a literatura que trata do assunto?
Num curso de Parapsicologia, foi aplicada a Regressão de Memória em uma participante. Por sinal, uma técnica milenar hoje também usada na Psicologia Transpessoal.
Em seguida, o parapsicólogo - eu estava lá - me olha e diz:
-Ela está com dois anos de idade, peça-lhe que faça algo compatível com essa época.
Com um olhar pidão, pedi:
-Faça xixi e ela fez. Fui injustamente jubilado do curso. A minha pergunta, pelos efeitos práticos que provocou, ao contrário do que se possa pensar, materializou a credibilidade do curso. Pergunto: Você crê que a Regressão de Memória sustenta a tese de que o orgânico não está separado do psíquico?
Agora, sou eu quem faço uma pergunta: ela não lhe bateu quando retornou? rsrsrs
Creio em nenhum estado haver separação do físico com o psíquico.
FIM
Parabéns Augusto Aguiar-Essa entrevista com o escritor Cesar Batista,descreve com humor e uma linguagem peculiar, o que ele é como pessoa,autêntico e com capacidade de escrever e viver a vida com suas vicissitudes e gratidão.Tanto que hoje é membro da academia A.R.L.,academia de renome literário.Sou muito feliz por todos os méritos.abraços.Luzia Madalena Granato.
ResponderExcluir