terça-feira, 11 de novembro de 2014

Boatos

O boato é uma notícia verdadeira ou falsa, mas maldosa. Muitas vezes, o seu alvo  é uma pessoa pública, midiática, que tem como desmenti-lo, caso seja falso, através dos meios de comunicação. Ou então, caso seja verdadeiro, adequá-lo a uma interpretação correta, remover as tintas da maldade.
Outras vezes, a vítima do boato pode até ser alguém importante; neste caso, aquela pessoa que se abstém do barulho social. Assim sendo,  supõe que ficará à margem desse estilo de comentário. Puro engano, esse modo de vida também gera boatos e assanha ainda mais aqueles que praticam esse gênero de comportamento social.
O escritor americano J.D. Salinger (1919-2010) é  o modelo perfeito de alguém dotado de visibilidade, mas que se isolou do mundo. Ele é autor de "O Apanhador no Campo de Centeio”, livro publicado em 1951, que já vendeu mais de 65 milhões de exemplares e continua vendendo muito na atualidade. Por sinal, essa obra literária mudou o comportamento da juventude americana.
Os boatos a respeito J.D. Salinger – falsos ou verdadeiros – ainda vigoram até os dias atuais. Uma parte de sua correspondência particular foi publicada sem que o escritor autorizasse. Caso estivesse vivo, esse fato o deixaria profundamente irritado.
Conclui-se, portanto, que Salinger - por uma questão de opção - adotou uma postura que não facilitou a ele esclarecer as menções desabonadoras, um dos braços do famigerado boato.
Dessa forma, deixou mais robusta uma conceituação que li há muito tempo: “Quando não funcionam os fatos, funcionam os boatos”.
Outro alvo é o cidadão anônimo contemplado com os mecanismos do boato. Veja, prezado leitor, um caso de boato que envolve uma pessoa com esse perfil. Certa vez, um homem cumprimentou uma mulher que estava lavando roupas. Eram vizinhos. Ela respondeu:
-Quer me ajudar?
-Só se for pra esfregar. – disse ele.
A mulher saiu esparramando boatos incluindo outros fatos  não ocorridos  naquela cena. E o coitado(?) do homem nem ficava sabendo. Como se defender num caso desses? Que ficou falado, ficou.
Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo literário de Sérgio Porto, um dos grandes cronistas de nossa imprensa) escreveu uma crônica a respeito dos boateiros.
Mais ou menos assim: “O sujeito era tão boateiro, que chegava a arrepiar. Onde houvesse um grupinho conversando, ele entrava na conversa e, em pouco tempo, estava informando: ‘Já prenderam o novo Presidente’, ‘Mataram agora o Cardeal’.
O boateiro encheu tanto, que um coronel do Exército o prendeu, levou-o até o paredão, colocou um pelotão de fuzilamento na frente, vendou-lhe os olhos e berrou: ‘Fogooo!.
Ouviu-se aquele barulho de tiros e o boateiro caiu desmaiado. Sim, caiu desmaiado porque o coronel queria apenas dar-lhe um susto. Quando o boateiro acordou, na enfermaria do quartel, o coronel falou pra ele:
‘-Olhe seu pilantra. Isto foi apenas para lhe dar uma lição. Fica espalhando mais boato idiota por aí, que eu lhe mando prender outra vez e aí não vou fuzilar com bala de festim não’.
Soltou o boateiro que saiu meio escaldado pela rua e logo na primeira esquina encontrou uns conhecidos:
‘-Quais são as novidades? – perguntaram os conhecidos.
O boateiro olhou pros lados, tomou um ar de cumplicidade e disse baixinho:
‘O nosso exército está completamente sem munição’ “.
Por fim, entre as múltiplas características do boateiro (a) ,destaco duas:
A primeira, um meio de vida para sobreviver, como uma atração necessária, nos grupos sociais com os quais interage. A segunda, prolongar a vadiagem. Alguns boateiros (as) são vagolinos (as), não fazem nada na vida. Qualquer que seja a característica, o boateiro vai cochichando o boato, de ouvido em ouvido, como se fosse uma biografia.
Você, caro leitor, conhece algum boateiro (a)?



Parte do conteúdo textual deste Blog integra o livro Mosaico Literário: Poesias e Crônicas, de Augusto Aguiar, registrado na Agência Brasileira do ISBN (International Standard Book Number) - Ministério da Cultura - Fundação Biblioteca Nacional, sob número 978-85-63853-54-7. 






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