sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Carta fora do baralho ( a matéria que evaporou )

Há alguns anos, um jornal local me solicitou que redigisse um artigo opinativo. O tema me foi passado no ato da solicitação. Além disso,  outras pessoas escreveriam a respeito do mesmo assunto e a publicação seria na mesma edição. As matérias foram publicadas, menos a minha.

Não me foi adiantado se o artigo só faria parte da edição na eventualidade de algum dos convidados não enviar o texto solicitado. É possível que o solicitante esqueceu-se de publicá-lo. Caso não tenha sido esse o motivo, só posso concluir que  escrevo muito mal e o responsável pelo jornal teve a delicadeza de não me falar. De um lado, eu não me interessei em aprofundar discussões. Do outro, talvez a tal pessoa quisesse dar um caráter mais profissional às páginas do jornal e me deixou de lado.

No entanto, meti na cabeça que escrevo mal. Fiquei depressivo, tive de tomar remédios controlados, fiz terapia. Enfim, vivo assinando artigos e me apresentando como escritor independente. Que vexame. Diante dessa conclusão, peguei o meu notebook, que atualmente substitui a caneta e o caderno de rascunho, e o coloquei junto com uma foto minha sobre o altar que temos aqui em casa. Nele, minha família e eu praticamos, fervorosamente, a fé cristã. Mas não colocamos contracheques de salários dentro da Bíblia  com a finalidade de implorar aumento. A questão de escrever é algo mais abstrato.

Em seguida, pensei: se o padre incensa o altar, não vejo nenhum problema em jogar  alguns galhos de arruda sobre o notebook e a foto enquanto permanecerem por lá. Desse jeito, evito aquela fumaceira que o incenso provoca. O altar, por sua vez, acolhe todos os gestos litúrgicos. Quem sabe o meu jeito de escrever melhora. Em minha humilde compreensão, o meu gesto estaria equiparado a um dos muitos que um altar acolhe. Além do mais, a arruda tem um quê de mística.

Não parei por aí. Tentei um contato com o deputado Tiririca a fim de me inteirar de  alguns macetes a respeito das técnicas de escrever bem, mas não consegui. Não era ano político. Por esse motivo, fica difícil qualquer contato.

Não reparem nos escorregões verbais, mas a seguir, meio sem jeito, publico o texto:
"Um conselho: matéria sobre política não incrementa vendas, assinaturas e publicidade. As matérias sobre comportamento, sim”. Esta é uma receita de Tales de Alvarenga, ex-diretor editorial de Veja e Exame, falecido em 2006. A conceituação é científica. Portanto, parabéns pela coragem deste jornal se aventurar em matérias de natureza política - sobre o mesmo teor e na mesma edição – assinadas por articulistas diferentes.

Certa vez estive em Brasília, poucos parlamentares estavam presentes à sessão na Câmara dos Deputados. Perguntei a um funcionário:
-O absenteísmo se deve aos baixos salários dos parlamentares?
-Não, os salários são altos – disse-me.
-Qual a reação quando cobrados pelo povo, pela imprensa? – indaguei.
-Às vezes, alguns ficam ruborizados – respondeu-me.

Lembrei-me das palavras de Torquato Jardim, ex-ministro do Supremo Tribunal. Acertou quando disse: “O direito eleitoral é o único em que o legislador é o destinatário exclusivo da norma”. O exemplo contempla a frequência dos parlamentares apesar da questão elencada estar sob a égide do Regimento Interno das casas de leis.

As minhas considerações não esgotam o debate sobre o tema. Mas fica aqui uma advertência: a classe política tem sido penalizada pela postura dos maus políticos. Esta é uma análise a ser levada em conta nas conceituações. Não existem apenas maus políticos. Há bons políticos no contexto geral.

Se a política é fraude institucionalizada por alguns, sirvam-nos, portanto, os maus políticos de advertência; os bons, de exemplo. Isso é como um casamento. Ou seja, em alguns casos, noivado rompido. Noutros, para além das bodas de ouro. 

Texto registrado na Agência Brasileira do ISBN (International Standard Book Number) - Ministério da Cultura - Fundação Biblioteca Nacional, sob número 978-85-63853-54-7.
Crédito da imagem: Google


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