Filho único, éramos apenas nós
dois: minha mãe e eu. Na missa, ainda menino, quando apertava minha mão, ela
pedia. Quando afrouxava, eu tinha a certeza de que seu estado de espírito
previa a graça. Sempre em meu benefício, claro.
Certo de que a graça estava
concedida, ficava disperso, olhando ao meu redor. Numa dessa vezes, olhei a parede ao
lado do altar. Nela, a aranha emboscou uma mosca. Depois do banquete, que não é
o do roteiro do culto religioso, o aracnídeo curtia a preguiça. Sem necessidade
do ato penitencial, pensava. Coisas de criança. Mas quando vou àquela igreja,
olho aquela parede. Nem as aranhas, nem as moscas se extinguiram. Falta apenas
a minha mãe, mesmo ainda viva.
Na
mocidade, o meu quarto de solteiro sempre foi um local
simples, mas muito bem cuidado por ela. Nele, idealizei vivências futuras cheias de glamour. No entanto, ao transitar por elas, percebi que a vida nunca me tratou tão bem como na época daquele meu quarto.
simples, mas muito bem cuidado por ela. Nele, idealizei vivências futuras cheias de glamour. No entanto, ao transitar por elas, percebi que a vida nunca me tratou tão bem como na época daquele meu quarto.
Adulto,
convivi com dois cânceres em tempos diferentes. O primeiro, no crânio. O
segundo, anos depois, no fígado. Neste último, fui salvo pelo transplante
depois de conviver com sete tumores. Não foi fácil. Mesmo sem ter conhecimento
do fato, minha mãe recebeu, por merecimento, a graça relativa à minha cura. Por
extensão, eu fui o beneficiado (como sempre).
Diversas
vezes, nos três anos que antecederam ao transplante, separei-me da minha mãe
(89 anos) devido a algumas internações prolongadas em Ribeirão Preto. Nesse
período, todas as noites, ela tinha um estalo e fazia com que meus familiares
me ligassem. Falava comigo, perguntava-me quando voltaria. Eu mentia que estava
viajando, que voltaria no dia seguinte. Ela acreditava e me abençoava.
Posteriormente,
internado por causa do transplante, eu seguia mentindo, ela acreditando e me
abençoando. Voltei, mas ela não sabe das cicatrizes imensas, decorrentes de
três cirurgias de grande porte (incluindo a do transplante), que vincaram o meu
corpo e, por extensão, a minha alma. Nem saberá. Prefiro que acredite que eu
estava viajando. E que – caso viaje novamente – volto no dia seguinte...
Feliz
Ano-Novo e ótimo Ano Novo, minha mãe.
Crédito: Composição e interpretação de Carlos Colla.
AUGUSTO MUITO LINDO E NOS FAZ REFLETIR, FAZ EM INSTANTES DEIXARMOS DE SER ADULTOS E MADUROS SEGUNDO NÓS E A SOCIEDADE E VOLTAR A SERMOS CRIANÇA INOCENTES E FELIZES, E COM A IMAGEM DE MINHA MÃE SEMPRE EM TODOS OS LUGARES PRESENTES, QUE SAUDADE QUE ME DEU, FIQUEI EMOCIONADO E POR UM INSTANTE SENTI SUA PRESENÇA E SEU AFAGO EM MEU CORAÇÃO, AUGUSTO OBRIGADO......
ResponderExcluirObrigado, Luiz Henrique. Um forte abraço e um 2017 maravilhoso pra você e os seus.
ResponderExcluirFeliz 2017 Augusto!!!Muita saúde! PAZ!!!Beijos em sua mãe tão querida!
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