“A
História é o alicerce sobre o qual construo meus romances”
(Alexandre
Dumas – autor de "Os Três Mosqueteiros)
Atualmente,
não se encontra – se é que existiu - a Lei ou o Decreto Municipal da criação
dessa praça. Nem na Prefeitura nem nos Arquivos Municipais nem na Câmara
Municipal. A não
localização de Leis ou Decretos dessa natureza repassa à educação patrimonial
local, instrumento de alfabetização cultural, um sério prejuízo. O cidadão fica
sem referência quanto à questão histórico-temporal da cidade no que diz
respeito às mudanças urbanísticas – e de suas nomenclaturas - ocorridas no
espaço onde vive.
Veja só, leitor: a título
de exemplo, em 1899, na cidade de São Paulo, capital do nosso estado, a Lei nº
416, de 28 de agosto, passa a denominar Rua Dr. Rodrigo Silva a primitiva Rua
da Assembleia. Como se vê, muito antes de 1912, os logradouros eram criados
através de leis.
No
momento atual, um decreto ou lei municipal regularizando a questão daquele
logradouro, bem como de outros em situação idêntica - seria extremamente salutar
para se dar um rosto documental à História da nossa cidade.
Anos
depois, em 1953, no Dia dos Professores, inaugura-se o Monumento ao Padre
Anchieta (estátua daqui para frente), no centro da Praça Valêncio de
Barros, uma iniciativa do povo e dos professores daquela época.
Anchieta é o patrono do ensino no Brasil, foi nosso primeiro mestre. Mas os
protagonistas desse ato cometeram uma distração incrível. Se o homem é o
patrono do ensino, qual a razão da estátua estar de costas para uma
agência de letramento, a escola Abílio Manoel?
Quando da inauguração da Praça Valêncio de Barros, o que impediu, na ocasião, de não se estatuar o homenageado? Não sei. Mas em qualquer tempo, ele é o único que deveria estar lá. É o mínimo aceitável para a qualidade estética e histórica do local. Dessa forma, teríamos uma Valêncio de Barros mais rica de significado.
Nota-se,
portanto, que aqueles que estiveram à frente das iniciativas da criação dessa praça (1912) ,antigo Jardim Misterioso, deixaram uma brecha
para um futuro erro: a instalação da estátua de Anchieta. Essa homenagem
colocou o oco no lugar do vazio.
Além dos idealizadores da criação da praça e do povo da época da instalação da estátua, devoto uma imensa admiração e respeito pelos professores, sejam eles de qualquer momento histórico, mas a homenagem ao patrono do ensino na Valêncio de Barros mostra a falta da mínima noção de o que fazer (e o que não fazer) num caso desses. Nessa praça, Anchieta está fora de lugar. E, como já disse, numa posição errada.
De mais a
mais, a aura de mistério que envolve o local é algo a não ser menosprezado.
Enfim, desde a época que se chamava Jardim Misterioso, a praça está sobre
restos de cadáveres anteriormente remanejados para o atual Cemitério Municipal.
Algumas pessoas, dotadas de faculdades especiais, possuem a capacidade de mediarem o contato entre o mundo material e o espiritual. Num tom confessional, a propósito da estátua de Anchieta, comentam que, altas horas da noite, costuma resmungar a respeito das suas insatisfações. A sua presença ali – segundo diz - mais do que caracteriza um vínculo empregatício com a Prefeitura Municipal, um pepino que – em 1953 – o povo e os professores empurraram para a municipalidade.
Desde aquela época, reclama Anchieta, está escrevendo sem
parar. Por sinal, numa posição incômoda, inclinado sobre a plataforma que
representa a areia da praia. Decorrido um tempo significativo, sente os efeitos
desse esforço repetitivo.
Além disso, entre esse e muitos outros direitos trabalhistas a que faz jus, não usufrui de um descanso razoável que, a exemplo do final de uma jornada de trabalho e o começo da outra, deveria acontecer.
Uma reclamação na Justiça do Trabalho, tendo como reclamante Anchieta, configuraria um elevado passivo a ser pago pela Prefeitura Municipal, mesmo que a retroatividade, de acordo com a lei em vigor, se dê apenas aos últimos cinco anos.
Além disso, entre esse e muitos outros direitos trabalhistas a que faz jus, não usufrui de um descanso razoável que, a exemplo do final de uma jornada de trabalho e o começo da outra, deveria acontecer.
Uma reclamação na Justiça do Trabalho, tendo como reclamante Anchieta, configuraria um elevado passivo a ser pago pela Prefeitura Municipal, mesmo que a retroatividade, de acordo com a lei em vigor, se dê apenas aos últimos cinco anos.
Num outro contexto – acrescentam os clariaudientes (homens ou
mulheres que ouvem vozes dos espíritos) - ele pretende, também, fazer uma
moção de desagravo aos católicos, apostólicos e romanos da cidade.
Canonizado em três de abril de dois mil e quatorze, reclama da ausência de católicos por ali.Frequentadores da praça testemunham o fato e acrescentam que nenhum católico faz o sinal da cruz ou a genuflexão (ato de se ajoelhar) diante da imagem do agora São José de Anchieta.
Canonizado em três de abril de dois mil e quatorze, reclama da ausência de católicos por ali.Frequentadores da praça testemunham o fato e acrescentam que nenhum católico faz o sinal da cruz ou a genuflexão (ato de se ajoelhar) diante da imagem do agora São José de Anchieta.
Segundo o Santo, dizem os clariaudientes, essa postura denota
indícios de um catolicismo que vem se submetendo à perda de fiéis. Essa
religião está sem aquela elasticidade quase unânime de outrora.
Antigamente, os católicos, ao passarem diante da igreja ou da imagem de um
Santo, faziam solenemente o sinal da cruz. Alguns acrescentavam a genuflexão.
Hoje, por exemplo, muitos olham para um lado; depois, para outro.
Se não há ninguém olhando, eles fazem, às pressas, o sinal da cruz. Parecem
inibidos com o crescimento das outras correntes religiosas cujos membros podem
estar nas imediações. Ventos transformadores sopram desde o século passado.
Algumas coisas, antes inimagináveis, fazem parte da rotina do momento atual em
termos de religião.
Aquelas pessoas dotadas de faculdades especiais acrescentam que
Valêncio de Barros costuma ter uns arranca-rabos com São José de Anchieta. Na
concepção de Valêncio, não apenas na minha, ele é quem deveria ter a
estátua no centro da praça que leva o seu nome.
- Saia daí, esse lugar é meu. – diz pra Anchieta.
- Cadê a lei? Cadê a lei? – retruca Anchieta a respeito da Lei ou
Decreto Municipal da criação da Praça (1912), que ninguém acha.
Dizem também que - após a canonização de Anchieta - Valêncio
de Barros civilizou o vocabulário, mas o bate-boca continua.
São José de Anchieta sempre responde:
- Respeite-me! Hoje, sou uma estátua sagrada.
E acrescenta:
- No Brasil só há três Santos canonizados: Eu, Madre Paulina
e São Frei Galvão. E só este último tem poderes para
resolver as nossas diferenças em relação à esta praça. E ao
meu passivo trabalhista também.
Tá rindo, leitor? Por quê? *
* A menção de São Frei Galvão trata-se de um paralelismo com a pessoa do atual prefeito municipal de Bebedouro, o popular Fernando Galvão. Somente ele poderia dar jeito na situação descrita no texto acima.
* A menção de São Frei Galvão trata-se de um paralelismo com a pessoa do atual prefeito municipal de Bebedouro, o popular Fernando Galvão. Somente ele poderia dar jeito na situação descrita no texto acima.
Crédito da
imagem: Augusto Aguiar e Gazeta de Bebedouro
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