terça-feira, 16 de outubro de 2018

Plínio Albuquerque Furtado, nosso professor de Ciências Físicas e Biológicas na década de 60



O professor Plínio Albuquerque Furtado adotava o estilo clássico para ministrar suas aulas. Nelas, havia uma forte relação de direitos e deveres. E os alunos percebiam que o barulho lá fora fazia parte do silêncio dentro da sala de aula.
Porte elegante, cabelos irretocavelmente repartidos, voz firme. Algumas vezes, dependendo da temperatura, vestia uma paletó (como falávamos), mas era um blazer.
Quem presenciou seu Plínio explicar a fotossíntese, nunca verá coisa igual. Entregava-se de corpo e alma ao tema. Ia ao vitrô da classe, mostrava-nos as plantas do lado de fora e sua relação com esse processo físico-químico, a Fotossíntese. Sua postura ao detalhar o tema contagiava. Aliás, todos os temas.
Quando chegava a vez da Lei do Atrito, citava um exemplo doméstico referente à mudança de lugar do piano de sua casa. A solução foi dada pelo seu filho, o Cássio: "Papai, vamos colocar alguns panos flanelados por baixo e o instrumento deslizará sem que tenhamos de empregar muita força."

Morava na Rua Vanor Junqueira Franco, numa área elegante do centro da cidade. Eu percebia que ele era metódico, tinha horário para ir dormir. Certa vez, o Joaquim Ozorio de Souza Pinto (o Zoca), o João Cosmo Festozo Filho, entre outros, jogaram bola até tarde da noite. A partida aconteceu em frente à casa do professor Plínio.No dia seguinte, em sala de aula, seu Plínio “comentou” o jogo. Que, por sinal, não aconteceu mais.
Lembro-me de sua paixão pelo jogo de tênis. Treinava no período da tarde na quadra de saibro (terra batida) que havia no Estádio Arnoldo Bulle. Junto com ele, ora na condição de adversários, ora de parceiros: José Pedro dos Santos, empresário no ramo de combustíveis; Wilson Pedro Janine, médico cardiologista; Totó Leistner , cirurgião-dentista e o Amadeu, filho da dona Dilaura, proprietária da cantina do ginásio.
No final da década de 80 (se não estou enganado ao mencionar a data), eu morava em Barretos. Curtia férias por aqui. Aproveitei e fui sapear pelo centro da cidade. Encontrei com o seu Plínio na esquina onde fica a casa do falecido professor Júlio Briscese. Impecavelmente elegante, conversou muito comigo.
A certa altura, olhei profundamente em seus olhos esverdeados e disse-lhe: “Seu Plínio, somente na maturidade é que nós, seus alunos, no trato com nossos filhos adolescentes, reconhecemos todos os valores que o senhor passou-nos nessa fase de nossas vidas.” E ainda mergulhado naquele olhar, acrescentei: “Cada um de nós deveríamos ter uma estátua de bronze do senhor no jardim de nossas casas. O senhor sabe que um erro em bronze é um erro eterno, escreveu Mário Quintana, mas sua estátua representaria o acerto e o bom exemplo, juntos e somados.”
Senti que ele ficou emocionado. Ele constatou que eu também fiquei. Despedimos-nos com um longo e forte abraço. Foi a última vez que o vi.

Crédito das imagens: Crédito da imagem: Eduardo Toller Reiff , via página do Facebook:  Bebedouro em Foco



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