A cantiga de ninar é um mantra universal. O beija-flor sugando o
néctar das flores: poesia em estado puro. A emoção do retorno definitivo dá-se num cenário poético. Como se sabe, cada retorno verseja a falência da ausência.
A leveza de uma folha, essa expansão laminar, é um poema da natureza. A sua haste de sustentação, pendurada na planta,
mostra a sua bainha, esse suporte de invaginação, vedando, tal qual um hímen
flácido e complacente, a queda da folha no chão.
A poesia dos beijos de um casal. Os seus beijos se esfregam e se limpam
de todas as carências, de todos os pudores e de todas as pendências. Beijos levados,
ousados, indisciplinados: cada vez mais mal comportados. Fascinante o
malabarismo dos lábios, essas margens da boca.
Ou então, uma declaração poetizada, mas com um quê de prosa. Escrevi
esta, vamos lê-la:
“O teu resumo é enorme para um poema. A rima, sonoridade parente das palavras, soa tímida diante da tua figura linda. Ao caminhar pelos degraus dos teus desejos, roteiros de afetos, levo em minhas mãos os desejos dos teus desejos.
“O teu resumo é enorme para um poema. A rima, sonoridade parente das palavras, soa tímida diante da tua figura linda. Ao caminhar pelos degraus dos teus desejos, roteiros de afetos, levo em minhas mãos os desejos dos teus desejos.
O verso, ritmo do poema, não acompanha
o ritmo dos teus suspiros, quando te guardo no meu abraço e me abraça no núcleo
de todos os teus apertos”.
A sensação é de uma prece lírica. É por isso que a crônica chama-se: “Poesia: A Prece Lírica”.
A sensação é de uma prece lírica. É por isso que a crônica chama-se: “Poesia: A Prece Lírica”.
Quem habita por mais tempo em um poeta:
a poesia ou o cotidiano estreito?
A poesia em tempo integral, claro. O poeta nunca deixa a placenta da poesia, tampouco
diante das adversidades do cotidiano. Uma chuva ,por exemplo, incômoda para alguns, é poética para ele.
Leiam este poema:
OS PINGOS DA CHUVA
Os pingos da chuva, ousados, travessos,
OS PINGOS DA CHUVA
Os pingos da chuva, ousados, travessos,
balançam no fio, virados do avesso.
Luxuosa simplicidade: relâmpagos são lasers,
Luxuosa simplicidade: relâmpagos são lasers,
venta música e os pingos da chuva,
acróbatas indomáveis, dançarinos incansáveis,
dançam gostoso embaixo do fio.
No ocaso da dança, os pingos gaiatos respingam em:
Pálpebras
Lábios
Bustos
Braços
Mãos
Coxas
Pálpebras
Lábios
Bustos
Braços
Mãos
Coxas
Pés...
e encerram o ato.
(Augusto Aguiar)
augusto-52@uol.com.br
Crédito da imagem: http://silviamota.ning.com
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Escreve como quem respira, inala e exala poesia...
ResponderExcluirUm beijo