sábado, 5 de janeiro de 2013

Jogo a vida na poesia

Afinal, o que é poesia?  A minha resposta, salvo raras exceções,  não será no contexto de um padrão técnico de expressão, mas desvinculada das definições tradicionais, acadêmicas e das chancelas intelectuais.  Resumindo, poesia é o meu jeito de viver. Sendo assim, essa vivência empresta-me os temas para  compor os poemas, estes porta-vozes das minhas emoções. Ora escrevo-os num tom de “autobiografia poética”, ora de “autoficção poética”.
Algumas vezes, eles vestem-se com uma poesia sensual,  versos abusados, palavras quentes, soltas, levadas, marotas. Outras vezes, tocam a leveza do erotismo refinado.
Antes, porém, um esclarecimento: Nada imoral, tá.  Não vá me dizer:
“-Poemas eróticos não gosto, tô fora!”. Antes de conceituar, leia estes dois:
AS MINHAS RETINAS
As minhas retinas refletem a tua imagem invertida.
Retinas conservadoras, não me dão a esperança do teu vestido cair
.
SUSSURRO INTERIOR
Ao meu toque, a tua maturidade de interpretação sussurra-me a tua íntima transpiração.
Noutras ocasiões, a rebeldia se assanha, protesta, transgride, espalha versos no ar. Vejamos, então:
TRANSGRESSÕES: ANO DE 1968
Adolescência: aulas, uniforme incompleto
Disciplinas: Português, Religião (Orações “Insubordinadas”)
Recreio: bobagens na lousa
Prova: flagrado colando, expulso da sala.
Na rua: a mulher madura
Quem transgrediu foi a minha admiração
.
Se , de um lado , há poemas sensuais  e rebeldes, por outro , a tristeza invade os versos, o semblante do poema entristece, a sonoridade da rima fica chorosa. Assim, por exemplo:
ESPERANÇA
A dor era visível nos olhos do menino,
um brinquedo balançava entre os dedos pequeninos.
O seu olhar esperto vinha em minha direção
e num dialeto secreto tocava a minha emoção.
Fiz o  poema no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. No colo da mãe,  o menino olhava-me. Num diálogo silencioso, tendo como suporte nossos olhares cúmplices, conversamos sobre as nossas dores físicas. Nesse tipo de diálogo, disse-lhe:
“Um dia, haverá a quimioprevenção. Aí, não teremos mais dores; nem eu, nem você. Ou então, nenhum dos nossos. Por enquanto, vivemos realidades (Não) tão diferentes.
Façamos, então, um pacto: incurável é a poesia que devemos sentir pela vida”.          
Como se percebe desde o início, a poesia é o meu jeito de viver. Talvez nesta crônica fique mais claro, então, porque costumo dizer: “Jogo a vida na poesia”.
(Augusto Aguiar) 
augusto-52@uol.com.br
http://stilocidade.webnode.com




2 comentários:

  1. Olá Augusto,

    Concordo com você, a poesia é mesmo uma maneira de viver; de ver e sentir a vida. Vai aí um trecho de um texto meu postado lá no blog, que fala exatamente sobre isso.(...)Talvez os loucos que não impõem limites aos pensamentos, nem aos sentidos ou sentimentos. Loucos, os desapegados da realidade hipócrita, que desaguam verbos em papéis, se desnudam sem pudores, desarmam o peito e se arriscam expondo sem medidas o que por dentro já não cabe. Loucos os poetas, seres raros, sempre caros, que não se contradizem nunca por que vivem e morrem o que falam.(...)
    Entendo quase nada de literatura, mas sei que cada um no seu estilo, encontra uma maneira bonita de poetar.
    Gosto muito de ler você.
    Um beijo

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  2. Corretíssima a sua conceituação,Elzinha. Belíssimo o seu texto, adorei-o. Agradeço o apoio no que concerne às visitas ao Blog. Quanto ao seu Blog, está impecável. Parabéns !!! Um abraço. Augusto.

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