sábado, 18 de março de 2017

Morre Silvinho Sampaio

Silvinho Sampaio
Entre os colunistas sociais já falecidos, o professor Waldemar de Mello, que assinava-se sob o pseudônimo de Marquês de Sandoval, e Silvinho Sampaio deixaram suas marcas no jornalismo social local. Com estilos diferentes, mas deixaram. Ambos desfilaram seus talentos na Gazeta de Bebedouro, tradicional jornal local.

Em sua coluna, o Marquês de Sandoval, um dos melhores textos que Bebedouro já teve, primava pelo tom poético nas descrições das amenidades sociais. Utilizava-se de uma linguagem caracterizada por uma leveza incomum. Não incluía temas políticos.

Ao contrário dele, Silvinho, além das notícias a respeito daqueles que frequentam o barulho social – e sem perder de vista uma linguagem criativa e uma estética adequada – trazia para esse tipo de jornalismo opinativo, o colunismo social, notas sobre fatos políticos (algumas ácidas).

Como se vê, não seguia o critério de Walter Winchell, jornalista americano que, na década de 1920, criou o colunismo social. Winchell implantou, nesse estilo jornalístico, as “gossip columns” (colunas de fofocas).

A exemplo da coluna social do Marquês de Sandoval, a do Silvinho Sampaio também era concorridíssima. O primeiro, escrevia movido pelo prazer. O segundo, como a maioria dos colunistas do gênero, tinha na coluna social um negócio. Era um profissional do ramo, um publicitário. Tentava viver disso.

Colocou os pés em todos os lugares glamorosos de Bebedouro, residências ou não, quer como convidado, quer por iniciativa própria. Enfim, dispunha de um templo em que um incontável número de interessados pedia para entrar: a sua Coluna Social.

Era comum alguns colunáveis, com os quais Silvinho tinha intimidade, recepcioná-lo com um almoço ou jantar. Às vésperas dessas ocasiões, ele brincava: “Sirvam-me caviar e vodca como entrada". E acrescentava: "Esses ingredientes estão no rol das minhas preferências para acompanhar a refeição principal”. Muitos serviam.

As pessoas das rodas sociais mais sofisticadas, foco de todo colunista social, proporcionavam visibilidade a esse espaço privilegiado do jornal, a sua coluna social. Havia, também, aquelas sem nenhum vínculo com os andares superiores da nossa sociedade, mas que, por alguma razão, eram imprescindíveis para ele. Os dois tipos, de uma forma ou de outra, alimentavam o supérfluo do leitor.

À parte do exercício de sua atividade nesse suporte de texto, o jornal, ele tinha uma voz maravilhosa para o rádio. Inclusive, exerceu a atividade de radialista.

Bebedouro possui grandes nomes no rádio: Wanderley Ribeiro, locutor esportivo, sempre atuando nas melhores emissoras de São Paulo; Paulo Beringhs, conceituado profissional da dama das mídias, a TV (atua em Goiânia); Paulinho Boa Pessoa, entre outros. Ele devia ter procurado algum deles no sentido de alavancar alguma oportunidade. Mas creio que não fez nisso.

Talvez pensasse que, no século 21, o rádio, como um meio de melhorar na vida, seria uma ilusão, mas não é. Das 05h00 às 19h00, nenhuma outra modalidade de mídia o supera em audiência. Nessa faixa horária, o rádio perde para a TV apenas em faturamento.

Quando saboreava caviar com os colunáveis, ele sabia, a exemplo de poucos, que essa iguaria não se mastiga, degusta-se. E com o seu jeito peculiar, degustou também a vida, apesar dos muitos infernos astrais que vivenciou.

Fez uma fiel adesão à máxima de que daqui não se leva nada. Adotando essa atitude, viveu de uma forma desapegada. Para muitos, distraidamente desapegada.Morreu neste sábado, 18/03/17, dia do descanso, algo que gostava de desfrutar. Foi embora pela manhã. Não quis incomodar a sua musa, a noite.


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