quinta-feira, 22 de junho de 2017

Algozes de São João Batista


Quando passo pelos Cafés da cidade, às vezes encontro por lá dois caras que pactuam uma amizade invejável entre si . Gostam de alimentar, com fofocas e/ou boatos,  a psique dos frequentadores daqueles locais.  Especialistas no assunto, eles sabem muito bem que a fofoca e o boato são autônomos. Ou seja, cada qual tem vida própria. E que o boato se divide em verdadeiro ou falso. 

Ao narrarem-me as fofocas, o talento deles – constituído de um magnetismo envolvente - faz com que esse gênero de notícia perca o caráter transgressivo e assuma contornos de algo sério. Caso sejam boatos, vindo deles, são sempre verdadeiros.

Por isso, quando há algum assunto fervilhando pela cidade, o agente da cena (alvo da fofoca ou boato) some dos Cafés ao saber que os dois já têm conhecimento daquilo que se comenta. E como o leitor sabe, quando o assunto é fofoca ou boato o lugar comum desaparece, surge uma obsessão.

País de forte apelo religioso ao catolicismo, resultado das suas razões históricas, o Brasil renova a cada ano o ciclo das comemorações das festas juninas, todas atreladas a estes santos da Igreja Católica: Santo Antônio, São João e São Pedro.

Em uma das vésperas do dia de São João Batista, logo pela manhã, num dos Cafés da cidade, os dois amigos me chamaram para o centro da roda. Gosto de conversar porque, assim, posso aprender com as pessoas, mas, naquele momento, vi minha ida ali como um grande erro.

Fizeram-me uma pergunta maledicente em tom de fofoca:
- Qual é a sua religião?
- Católica Apostólica e Romana. Nela, sou Cursilhista. – respondi.
- Nos altares de algumas igrejas, a imagem de São João Batista está com a túnica acima de um dos joelhos; Em outras, além desse detalhe, exibe também uma parte do tórax desnudado, anunciando um corpo sarado, por quê? – perguntaram-me como se me interrogassem. E quando perguntam, o fazem com um quê detetivesco como se já soubessem a resposta.

Jiddu Krishnamurti (1895-1986), pensador indiano radicado nos Estados Unidos, escreveu: “Quando outra pessoa diz algo novo, ficamos atrás de uma cortina de resistência. Não escutamos a voz de quem nos fala, mas nossas próprias vozes”. Ele é um dos grandes pensadores do século 20.

Naquele instante, enfiei-me atrás de uma cortina de resistência. Um tumulto de opiniões ocorreu entre eu e os dois amigos. O diabo não estava lá, mas mandou-os como representantes. O jeito foi eu me arrancar dali.   Hoje, recebi a conta do café que não paguei devido à minha saída precipitada do local. Junto com a minha conta, a deles. 



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