Quando passo pelos Cafés da cidade, às
vezes encontro por lá dois caras que pactuam uma amizade invejável entre si . Gostam de alimentar, com fofocas e/ou boatos, a psique dos frequentadores daqueles locais. Especialistas no assunto, eles sabem
muito bem que a fofoca e o boato são autônomos. Ou seja, cada qual tem vida
própria. E que o boato se divide em verdadeiro ou falso.
Ao narrarem-me as fofocas, o talento deles – constituído de um magnetismo envolvente - faz com que esse gênero de notícia perca o caráter transgressivo e assuma contornos de algo sério. Caso sejam boatos, vindo deles, são sempre verdadeiros.
Ao narrarem-me as fofocas, o talento deles – constituído de um magnetismo envolvente - faz com que esse gênero de notícia perca o caráter transgressivo e assuma contornos de algo sério. Caso sejam boatos, vindo deles, são sempre verdadeiros.
Por isso, quando há algum assunto
fervilhando pela cidade, o agente da cena (alvo da fofoca ou boato) some dos
Cafés ao saber que os dois já têm conhecimento daquilo que se comenta. E como o
leitor sabe, quando o assunto é fofoca ou boato o lugar comum desaparece, surge
uma obsessão.
País de forte apelo religioso ao
catolicismo, resultado das suas razões históricas, o Brasil renova a cada ano o
ciclo das comemorações das festas juninas, todas atreladas a estes santos da
Igreja Católica: Santo Antônio, São João e São Pedro.
Em uma das vésperas do dia de
São João Batista, logo pela manhã, num dos Cafés da cidade, os dois amigos me
chamaram para o centro da roda. Gosto de conversar porque, assim, posso
aprender com as pessoas, mas, naquele momento, vi minha ida ali como um grande
erro.
Fizeram-me uma pergunta maledicente
em tom de fofoca:
- Qual é a sua religião?
- Qual é a sua religião?
- Católica Apostólica e Romana. Nela,
sou Cursilhista. – respondi.
- Nos altares de algumas igrejas, a imagem de São João Batista está com a túnica acima de um dos
joelhos; Em outras, além desse detalhe, exibe também uma parte do tórax
desnudado, anunciando um corpo sarado, por quê? –
perguntaram-me como se me interrogassem.
E quando perguntam, o fazem com um quê detetivesco como se já soubessem
a resposta.
Jiddu Krishnamurti
(1895-1986), pensador indiano radicado nos Estados Unidos, escreveu:
“Quando outra pessoa diz algo novo, ficamos atrás de uma cortina de
resistência. Não escutamos a voz de quem nos fala, mas nossas
próprias vozes”. Ele é um dos grandes pensadores do século 20.
Naquele instante, enfiei-me atrás de uma cortina de resistência. Um tumulto de opiniões
ocorreu entre eu e os dois amigos. O diabo não estava lá, mas mandou-os como representantes. O jeito
foi eu me arrancar dali. Hoje, recebi a conta do café que
não paguei devido à minha saída precipitada do local. Junto com a minha conta,
a deles.
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