“Obscena é a
censura”
Salete trabalhava há alguns meses na casa de uma família de classe média. O casal e um filho adolescente, de
quinze anos. As famílias modernas são pequenas.
O homem era dono de uma empresa, mas noutra cidade. Vinha para casa todos os finais de semana. A mulher, funcionária pública, almoçava no emprego. O filho chegava da escola ao meio dia e meia, almoçava sozinho.
Todos os dias, durante o almoço, o
jovem prestava atenção em Salete. Nesse horário, enquanto ele almoçava, ela
lavava as louças e alumínios. Pela localização da pia da cozinha, executava
essa tarefa de costas para ele.
Aos quarenta anos, sem o trato de uma
socialite, mas também sem nada implantado no corpo, silicone, por exemplo, ela
era sensual, apesar de distanciar-se do fantasioso universo das mulheres que
ele via na Playboy, nos calendários de parede, nos livrinhos de sacanagem e
outras fontes de estímulos eróticos por aí afora.
Mesmo com um corpo sem retoques, os,
vamos assim dizer, excitantes detalhes curvos de Salete deixavam o Tadeuzinho,
esse era o nome do jovem desbussolado, sem qualquer norte para controlar sua
libido em relação à empregada. Por sinal, uma libido desobediente, indisciplinada, insubordinada, mal
comportada, entre outras infrações da psique.
Por mais de uma vez ao dia,
acariciava-se com toques confidentes mentalizando cenas eróticas com a
empregada. Chegava a ter polução noturna, aquele orgasmo que acontece
durante o sono. A matriz desse tipo de orgasmo: Salete. Tudo nela era
sedução.
Certa vez, após almoçar, dirigiu-se
até o filtro de água que ficava em cima da pia. Sentiu-se muito próximo daquela
mulher que mexia com seus hormônios. Foi-lhe o suficiente, nem deu tempo pra
pensar em certo ou errado. Aliás, há tempos, quando o tema era Salete, em sua
cabeça não havia mais separação entre imaginação e realidade. Uma sensação de
intimidade fluiu com intensidade. Enlaçou-a pelas costas. Ela
experimentou uma sensação de estranhamento. Sentiu todo o corpo do rapaz
abraçando-a por trás.
No trabalho, por achar mais
confortável, usava saia de tecido fluído, cintura elástica, com o comprimento
até a altura dos tornozelos. Tadeuzinho, pela facilidade que esse tipo de
cintura oferece, abaixou a saia dela, apalpou-lhe o bumbum e sentiu as coxas
macias, mas firmes.
Aconteceu, então, um diálogo veloz:
- Para, pode chegar gente. – dizia
ela.
- É apenas essa sua preocupação?
Ela não respondeu.
- Eu fecho o portão com o cadeado.
Diga pra mim – insistia - é só essa sua preocupação? Se quiser, vamos pro
quarto.
- Não vou fazer nada, nem vou a lugar
nenhum. Largue-me.
Ela contorcia-se pra lá, pra cá,
resmungava, tentava empurrá-lo. De repente, emite um grito sussurrado:
- Nãoooo.
Caso a cena fosse uma produção cinematográfica
sobre uma tentativa de estupro, seria primorosa. Ali, para Salete, não
acontecia nada de açucarado. O rapaz queria tocar-lhe os seios, o sexo, as
nádegas e, por fim, gozar. O gozo já se prenunciava. Nenhum adolescente escapa
da ejaculação precoce.
Ela continuava recusando, mas ele
sabia que era adúltera, tinha um amante. Num final de semana, seus pais haviam
comentado. E, por sinal, o pai advertiu-o para manter sigilo a respeito
do assunto.
Então, ainda engastalhado em Salete,
desobedeceu as recomendações e disse a ela sobre o adultério.
- Quem falou isso? – perguntou quase
chorando.
- Todo mundo fala. – ele respondeu.
E deu o nome do cara:
- É o Carvalho.
Ela manteve-se calada.
A escorregada conjugal criava um
clima favorável para ele chantageá-la, insistir com suas audaciosas incursões.
Era um intenso diálogo de palavras e toques. Estes últimos só da parte dele. O
contato dela visava apenas afastá-lo. Àquela altura, o adolescente não entendia
a razão de tanta recusa.
Para entender é preciso compreender.
Ele mal sabia que qualquer ponto do corpo feminino que seja tocado e, de
imediato, haja uma recusa, esta deverá ser respeitada. A experiência mostra que
não se sabe o que acontece por ali naquele momento. Ingênuo, em função da
idade, ignorava que não é sempre que a mulher está pronta para a transa. Seria
algo assim que se passava com ela?
Por outro lado, a empregada adotava
uma insistente proteção à região das mamas. Isso despertou a atenção do
rapazinho. Nelas estaria a zona erógena mais intensa? Caso positivo,
pelos seios seria o melhor caminho para consumar suas intenções. Apesar de
inexperiente, já lera e conversara bastante a respeito desses pontos especiais.
De repente, disse:
- Pode levantar a saia, vamos deixar
disso. Desculpe-me.
Aliviada, inclinou-se para suspender
a saia. O gesto foi fatal. Abaixou a guarda da região mamária e criou um
facilitador para ele enfiar a mão entre uma das mamas e o bojo do sutiã. Mas
não sentiu a deliciosa sensação de volume que o contato com as mamas, por
menor que sejam, proporciona.
À frente do rosto dela, a mão do
rapaz segurava guardanapos, uma fronha de travesseiro bem enrolada e uma
toalhinha de lavabo que estavam escondidas no sutiã. Mesmo assim, ela não
cedeu. Jamais faria sexo sem amor. Amava o Carvalho. Pegou seus
pertences e foi embora. Que se danasse o juízo moral que o rapaz fizesse
a respeito do furto.
No dia seguinte, quando chegou da escola, o jovem encontrou um bilhete. Dizia assim: “Salete pediu as contas, compre uma marmitex. O dinheiro está na gaveta do armário. Beijocas. Mamãe”. Abatido, Tadeuzinho não almoçou.
Crédito da imagem: Google
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